2q5d3w
A
Noo de Segurana Democrtica como
Alternativa para a Crise da Funo Policial
3c694e
Prof.
Manoel Mendona Filho
Nesta
apresentao, o leitor encontra, a ttulo de ilustrao, o relato
de alguns acontecimentos que do a
pensar, na medida em que deixam ver as defasagens e paradoxos
entre as concepes mais recorrentes e as circunstncias cotidianas
das relaes cobertas pelo termo Direitos Humanos no campo
especfico da Segurana Pblica.
So acontecimentos analisadores, assim chamados pela capacidade de
exposio de conjuntos de crenas e valores em descomo com a mutao
do cotidiano. Encontra,
ainda, a crtica de certas
crenas e valores e uma pesquisa de alternativas de entendimento da temtica
da Segurana Pblica.
Espera-se
que, servindo de antesala aos textos que se seguem, as curtas histrias
aqui narradas, deixem o leitor de sobreaviso em relao a
posicionamentos muito rpidos ou muito bivios quando se trata de
discutir a organizao socio-poltica contempornea.
O
recebimento, por Universidades Federais do Nordeste, da encomenda de uma
ONG, que dispunha de recursos de uma fundao internacional para um
programa de Educao para a Cidadania junto s organizaes
de polcia, foi a oportunidade para a experincia de que tratam os
textos desta mesma publicao.
Ao
longo de mais de trs anos muito se discutiu e aprendeu com a rara
experincia de aproximao entre os dois segmentos de funcionalismo pblico
que compem, respectivamente a universidade e a polcia. Assim, o que
aqui se faz uma narrativa de algo que deve ser tomado, antes de mais
nada, como movimento poltico/institucional. Movimento no mesmo ton das
ampliaes dos espaos de Cidadania, naquilo que isto fundamental
para a, necessariamente cotidiana, atualizao da justia das relaes
sociais.
As
reflexes apresentadas neste artigo se forjaram na intensa participao
, desde o seu incio, no processo de desenvolvimento do Programa de
Educao para a Cidadania- em encontros para discusso e formulaes
gerais sobre concepes e mtodos que sustentaram o programa e, mais
especificamente, na negociao e coordenao do programa em um dos
Estados onde este foi desenvolvido.
Evidentemente,
as anlise e posies assumidas descartam qualquer pretenso a
homogeneizar as perspectivas e singularidades, tanto do trabalho em cada
Estado e, menos ainda, do modo de insero e funcionamento das pessoas
que se implicaram com a efetivao da proposta.
Cabe
acrescentar, ainda, que
este texto foi escrito no calor da participao em um seminrio sobre programas de formao
voltados para a rea de segurana pblica. Dois dias antes,
realizou-se um workshop reunindo tcnicos, pesquisadores e
profissionais, inclusive das polcias dos estados, que tm trabalhado
com aes educativas orientadas por uma perspectiva de democratizao
das relaes scio-institucionais na rea de segurana pblica.
O Enquadre 6t4r1y
Em
meio a uma avalanche de imagens e informaes que atualmente circulam
na mdia, fazendo da Segurana Pblica a Neurose mais atual,
surge uma infinidade de anlises e formulas de resoluo dos
problemas. O mais comum, quando se l ou ouve falar do tema, uma
reduo simplista da questo ao problema da criminalidade. Direo
sem sada, esta perspectiva nos coloca do crculo vicioso da violncia que combate e gera a violncia e da excluso que cria e resolve a criminalidade.
Buscando
alternativas de como entender o problema, parte-se da idia de Falta
de reconhecimento mtuo como diagnostico provisrio e geral.
Comentrio inicial: A racionalidade tcnica, ainda que possa
subsidiar prticas bem estruturadas, no serve a nada se no leva
suficientemente em conta que, sendo apenas uma dentre outras prticas e
conjuntos de interesses, deve submeter-se aos critrios scio-afetivos
de hierarquias e obrigaes. Se no para a construo de seus
pontos de vista, obrigatoriamente na expresso destes em espaos pblicos,
sob pena de quebrar o frgil limite entre relaes tico-polticas
de reconhecimento dos comuns e funcionamentos de autoritarismo
mutuamente desqualificadores, que preenchem o lugar do outro com a
imagem de uma parcela que no tem valor, Podendo, portanto, ser
eliminada.
Como
forma de introduo s questes, segue apresentado um breve relato
de alguns acontecimentos em torno do tema da segurana pblica -
dimenso constitutiva do objeto funo pblica de um curso de
doutorado em andamento:
Primeiro ato a Polcia
Destrambelhada 2n5v1h
Pouco
menos de dois meses atrs, recostado em um balco de bar no centro de
Salvador, algum me chama ateno para a agem da tropa de choque
da polcia militar. Desde meios da dcada de 80 no se via o choque
utilizado em manifestaes de rua. A imagem da tropa em movimento
ofensivo mobilizou tropismos militantes e, quando me vi, estava entre a
manifestao e a tropa, debruado pr cima dos escudos, tentando a
ateno do coronel que comandava
a operao.
A
experincia com a represso durante a militancia estudantil somou-se
aos ltimos trs anos de trabalho pela Comisso de Direitos Humanos
da Universidade - um Programa de Educao para a Cidadania
desenvolvido junto as polcias do Estado - favorecendo uma calma e
lucidez, talvez incompatvel com a situao.
Bastou um timo de olhar e o grito de ...instrutor da polcia
de Sergipe, surtiu o efeito desejado. Autorizado a cruzar a linha do
peloto, j ao lado do coronel, digo nomes de alguns oficiais da polcia
sergipana e consigo um pouco mais de sua ateno.
A
linha do choque estava parada a cerca de 50 metros da linha da manifestao,
e se uma negociao no fosse aberta o pipoco no iria demorar.
o a sondar as pretenses tticas do coronel e escuto, de um outro
oficial, a informao de que era uma manifestao sem coordenao
centralizada. Com efeito, o carro de som, meio perdido entre
adolescentes com uniformes de escolas pblicas e particulares, no
controlava nem mesmo as falaes que sobre ele se sucediam.
Pergunto
ao coronel o que ele pretendia e ele responde que, se ns nos
mantivssemos ali, ele estava satisfeito, pois suas ordens eram para no
permitir que a manifestao avanasse rumo Graa - bairro de
residncia do ex-senador ACM, alvo
da manifestao.
Como se fosse uma cena j presenciada, percebo a aproximao
de uma velha amiga dos tempos de militncia, agora deputada, tambm
ali na tentativa de negociar.
-
o que que voc esta fazendo aqui companheiro?
- que eu ia ando...
Nos voltamos
para o coronel, apontando o absurdo da represso, j que a manifestao
era pacfica e sem o menor risco para a segurana de vidas ou patrimnio.
- E ento coronel? no estou
entendendo, um bando de adolescentes, como seu oficial mesmo disse,
sem coordenao centralizada. -
Eu sei Professor, eu tambm tenho parentes que poderiam estar ai, eu
tambm tenho cursos de direitos humanos e especializao em polcia
moderna feita no exterior.
O
oficial d ordem para que a tropa avance mais alguns os.
Coronel, o senhor disse que bastava no ar, o senhor podia permitir
que a manifestao fosse por ali ao invs de por aqui. - Estou cumprindo ordens. - O senhor tem autonomia ttica
coronel, se continuar a avanar vai provocar o confronto. Vai reprimir
sem motivo coronel , direito de ir e vir e se expressar o que est
acontecendo aqui. - Olhem,
nem que vocs pudessem falar com o comandante no ia adiantar, a coisa
t na mo do gabinete do governador. -
Ento nos d o contato, uma deputada que est aqui tentando
negociar coronel...
Mais
uma ordem para o avano faz a tropa encostar nos manifestantes. Um
minuto depois as pontas das duas linhas se atritam, e s se v gs e
pancadaria.
- um
absurdo coronel, que violncia desnecessria, seu major est vendo
que so menores, devem ser embarcados na frente da viatura, devem ser
acompanhados, no podem ir para uma delegacia comum, abuso
coronel... - Se contenha
professor, se o senhor quiser, depois se faz uma avaliao.
Distanciado
de toda reflexo que j pudesse Ter feito em seus cursos de
especializao o oficial de polcia esta naufragado no automtico da
ao. Entre ele e os compromissos democrticos o automtico de um hbito
a muito arraigado obedincia cega a ingerncia poltico partidria
- serve como divisria.
O
que se ouve em meio aos gritos dos estudantes so falas de oficiais
que, funcionamento corriqueiro, justificam para si prprios a
violncia da ao.
- foram os
punks sujos, bateram com o pau da faixa no capacete do soldado. - Prenda
aquele, quero aquele, tava tentando chutar...
A
diabolizao do grupo de estudantes cria uma imagem onde velhos
atributos de comunistas e guerrilheiros se misturam
figura de punks vistos como sujos e violentos. A operao
transforma adolescentes em corpos em que se pode bater. A
identidade dos infiltrados logo contamina todo o grupo. No h
reconhecimento dos manifestantes como comuns; o funcionamento da Polcia
ignora o seu pertencimento a uma comunidade. Sem identificao possvel,
sem negociao possvel, a segurana desaparece.
A segurana no desaparece apenas para um dos grupos, tambm
para os indivduos perfilados com fantas e escudos a segurana
desaparece. Ou melhor, para a corporao policial, j que para estes
indivduos a segurana, estando eles na linha de frente da tropa,
nunca existiu. O desenrolar dos acontecimentos, em poucos dias,
iria mostrar que, do ponto de vista mesmo da corporao, a ao
daquele dia foi completamente destrambelhada.
Repetindo
a represso em uma segunda manifestao, mais violenta e arbitrria
que a primeira, a polcia invadiu a faculdade de Direito da UFBa,
desrespeitando ordem judicial que a
autorizava. Totalmente fora da legalidade, a corporao policial era o
sintoma da crise de legitimidade do ex-senador
que pensava ser o dono do
estado.
Ocupando
o lugar na mdia nacional, catalisando crticas de todos os matizes, a
polcia tambm foi diabolizada,
como corriqueiro. Como bem colocou o professor
Santiago Izquierdo
durante o seminrio de Recife: o interessante da pesquisa das
organizaes policiais na Amrica Latina, que nelas se
materializam conflitos que permeiam todo o tecido social com um profundo
atravessamento do local pelo global.
Uma
terceira manifestao, sem a presena do aparato policial e com uma
participao muitas vezes ampliada, chega pacificamente
ao alvo da pequena primeira manifestao, mostrando que a ao
policial estava longe de qualquer idia possvel de segurana pblica.
Segundo ato O estranho alvio da
SBPC 23p63
Ainda
em Salvador, em uma conversa de mesa de bar com um amigo envolvido com a
coordenao da Reunio Anual da SBPC,
surge a possibilidade de colaborar com a segurana do evento. Eram
esperados mais de 10 mil participantes e parecia que todas as providncias
estavam meio sub-dimensionadas. Pr outro lado, os recentes confrontos
entre a polcia e a comunidade acadmica estavam preocupando a
coordenao.
Animado
com a possibilidade de colocar a teste algumas idias sobre a questo
da segurana, comecei a fazer planos e contatos pensando em formar uma
comisso com pessoas de diferentes unidades da universidade. Elas se
espalhariam pelo evento participando, e orientando a organizao das
atividades, ao mesmo tempo em que, ligados por um bom conjunto de
radio-comunicadores, monitorariam os fluxos com a vantajosa intimidade
de observadores participantes.
Neste plano, as polcias ficariam no entorno do campus
e fariam principalmente o controle de os com detetores de metal. Um
grupo da polcia federal estaria no interior do campus em contato com
a coordenao da comisso de segurana para ser acionada caso
alguma situao chegasse a ficar sem condies de manipulao.
Cheguei at a pensar que se solicitaria polcia militar a utilizao
do contingente feminino, o que facilitaria a simpatia e conseqente
aproximao dos participantes.
Entretanto,
a iluso de que a comunidade universitria poderia oferecer um exemplo
de espao pblico autnomo, organizado
com base em um negociao democrtica dos diferentes interesses
comunitrios, durou pouco. Trs semanas antes do evento, circulou uma
mensagem do chefe de segurana, um ex-coronel de polcia, agora
professor, indicado pelo reitor.
Uma
lista de medidas tticas, com distribuio de tarefas entre as
organizaes policiais do estado, tratava a SBPC como se fosse uma
festa popular ou um show de
rock (sero colocados mdulos policiais como os do carnaval).
Escrevi uma mensagem ao amigo da coordenao dizendo que infelizmente
no poderia colaborar com muita coisa. A idia que tinha de segurana
de uma reunio cientfica, como aquela, pedia uma poltica de segurana
completamente diferente da simples operacionalizao ttica da velha
concepo de combate ao crime e manuteno da ordem. Entregar a
responsabilidade da segurana de uma reunio universitria a uma polcia
que acabara de invadir o campus no parecia uma boa idia.
Ironia
do destino, dias antes da SBPC as polcias entram em greve na Bahia -
mais desdobramentos da crise de autoridade dos governantes locais. As
cenas na mdia nacional mostravam uma cidade em comoo: roubos,
assassinatos, arrastes e saques. Palestrantes ligavam para saber se a
programao estava mantida, alguns cancelaram a vinda, o medo rondava
os participantes. A SBPC queria saber se poderia se realizar sem ser
atacada pela populao local.
Por
outro lado, durante o evento, nem um s comentrio dos organizadores
sobre a circunstncia poltica em que a reunio se realizava, nem um
nico manifesto de protesto, nenhuma anlise nem posicionamento
assumido. O diretor da Faculdade de Educao comenta, com tristeza, a
despolitizao da SBPC. Saudades de 1982. A praa de alimentao,
ocupando o lugar central como se fosse em um shoping-center, o termmetro
medindo o alvio. Alvio de uma SBPC perdida de sua histria,
que agora se sente segura com a chegada do exrcito para fazer o
patrulhamento das ruas de Salvador.
Terceiro ato A trplice incompetncia
da Qualidade Total. 16f1y
Durante
o Workshop que antecedeu o seminrio do Recife, desenrolou-se
mais uma pantomima das relaes (anti)democrticas. Como se disse,
estavam reunidos pesquisadores, professores, tcnicos e profissionais,
todos com experincias em formao na rea de segurana pblica.
Um grupo seleto de pessoas comprometidas em buscar alternativas e
operacionalizar mudanas nas prticas cotidianas relacionadas com o
sistema de segurana pblica.
Surpreendentemente,
aps uma manh de exposies em que o grupo se mostrou uma platia
atenta e respeitosa, entra uma equipe de consultores para coordenar
os trabalhos. O grupo, como depois ficaria claro, esperava se
auto-regular. Porm, sem nenhum tipo de sondagem, ignorando as caractersticas
do grupo, comunicado um esquema de trabalho com objetivos e tarefas
bem estruturadas e previamente definidas, bem ao molde das consultorias
empresariais.
Tratados
como estagirios em treinamento, o grupo se articula, pontua o
desrespeito e afasta os consultores da conduo do trabalho. O
funcionamento da bem remunerada consultoria, liderada por renomado
professor, foi de completa inabilidade: do ponto de vista tcnico
(desconhecimento de noes bsicas de dinmica de grupo); do ponto
de vista poltico ( atitude impositiva diante de um grupo politicamente
autnomo); do ponto de vista socio-afetivo (colocou-se pretensiosamente
como um outro superior, diante de rebeldes que deveriam ser postos
a produzir resultados).
Retorno s questes pontuando o
imoral da histria. 3e6111
Como
foi adiantado, existe um lgica racionalista que pensa poder resolver
os problemas de segurana pblica com a criao de normas e
procedimentos elaborados por anlises tcnicas dos especialistas.
Mesmo em situaes aparentemente insuspeitas, esta lgica mostra sua
fora geral de atravessamento das realidade locais. O cientificismo
contamina os modos de falar e fazer, tornando mais difcil a sustentao
regular de atitudes tico-polticas consistentes. O mito de que vida
social pode ser gerida atropela a necessria negociao cotidiana de
interesses e valores capaz de viabilizar as condies coletivas de
realizao dos desejos individuais.
Aqui,
mais que um guia instrumental de procedimentos para a segurana pblica,
pretende-se marcar uma referncia poltica distinta para pensar a
questo. Assim, prope-se o conceito de segurana
democrtica,
deslocando a definio da funo policial da idia de represso
ao crime para a idia de acompanhamento
e organizao
dos fluxos societrios e apostando na velocidade do reconhecimento entre os atores sociais responsabilizados pela funo
polcia e os demais segmentos societrios,.
Do
ponto de vista dos quadros das organizaes policiais, a segurana
democrtica s se torna possvel, se o recrutamento feito nos
grupos comunitrios diretamente envolvidos nas relaes a serem
policiadas e se a seleo e treinamento so orientados por valores
negociados entre estas diferentes comunidades. Assim, o processo de
formao policial a pela negociao coletiva de valores e
interesses, devendo envolver a organizao policial, as instncias de
regulao burocrtica e as comunidades constitutivas do agrupamento
societrio.
O
trabalho a ser desenvolvido junto ao sistema de segurana pblica,
caso se adote a perspectiva proposta, comea com a criao de
dispositivos regulares de reflexo crtica sobre as prticas
cotidianas de segurana pblica, envolvendo lideranas comunitrias,
representantes de instncias governamentais, profissionais da rea e
pesquisadores do tema. O objetivo geral que orienta as discusses e
deliberaes e encaminhamento destes dispositivos pode ser definido
como eminentemente educacional.
Educao,
aqui, entendida como atividade de sistematizao crtica de crenas
e valores coletivamente negociados em espaos pblicos de discusso e
de conflito de interesses. No se trata de ensinar a indivduos o que
eles devem ser nem pelo que devem se interessar. Trata-se de
educar a gramtica o modo de descrever o cotidiano -
que ordena os espaos pblicos de convivncia, colocando em
discusso os modos de falar e fazer que lhe so prprios.
A
noo de segurana democrtica coloca em relevo a imbricada relao entre
justia social e ordem social. Faz ver que a ateno e cuidado com as
relaes poltico-afetivas so base para qualquer teoria sobre
segurana pblica que pretenda deslocar o eixo da discusso da
funo de garantia dos dispositivos de governo para a funo de estruturao e proteo do tecido societrio.
Ao
invs de operar com base em imagens fetichizadas
- suspeitos, bandidos, marginais perigosos , policiais corruptos
- que no am de distintas formas de produo
de identidades do outro que autorizam sua destruio, prope-se
operar com as imagens de: situao
de conflito, circunstncia de
ilegalidade, tendo como funo
o reconhecimento, a identificao e a organizao dos fluxos e prticas
societrios.
Finalmente,
Segurana Democrtica o reconhecimento dos diferentes que precisam
ser envolvidos na negociao do espao de convivncia societria.
Ao invs da culpabilizao individual, pressupe a responsabilizao
coletiva. Coloca os atores sociais com relaes horizontalizadas do
ponto de vista do valor das pessoas, de suas crenas e de seus desejos.
A
quem se assuste com a amplitude da tarefa e que se deixe levar pelo
imediatismo das solues j
disponveis, resta a alternativa do plano do General Cardoso, que pensa
em resolver a crise das organizaes policiais pelo aumento da dependncia
e controle destas pelo exrcito.
O
imoral desta proposta pensar o policiamento sendo feito por uma tropa
que opera longe dos seus grupos de referncia,
sem compromisso com as comunidades locais e que s existe para
obedecer s instncias burocrticas de exerccio de poder. A mesma lgica
inspira os documentos do exrcito onde se l que: para proteger a
democracia pode ser necessrio arranhar alguns direitos do cidado.
Quando
o outro pode ser tratado como inimigo social, fala-se de um
processo de eliminao
seletiva, por mais que se tente esconder isto por trs de eufemismos
do tipo foras adversas. Isto no tem nada a ver com a
funo de organizao de um espao pblico capaz de uma atualizao
dos sentidos de polcia que parta dos interesses das comunidades
envolvidas e seja comprometido com a criao de um espao de convivncia
democraticamente ordenado.
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