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Insurreio Comunista de 1935 em Natal e Rio Grande do Norte d5153

1935 Setenta anos depois
Isaura Amlia Rosado Maia e Lalio Ferreira de Melo (Organizadores)

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A Insurreio Militar e Comunista de 1935
Ivis Bezerra

s 19h30m do sbado, 23 de novembro de 1935, o 21 Batalho de Caadores do Exrcito Brasileiro, sediado em Natal, iniciou um levante liderado por sargentos e cabos filiados ao Partido Comunista do Brasil e Aliana Nacional Libertadora, organizao poltica de esquerda, recebendo a adeso da direo do PCB e a participao de operrios, populares e ex-integrantes da guarda civil do Estado. Consolidado o controle militar, foi instalado um autodenominado “Comit Popular Revolucionrio” que durante 80 horas, at a madrugada do dia 27, manteve o controle da capital e de 17 cidades do interior, dissolvendo-se e se pondo em fuga, ante a aproximao de tropas leais ao governo federal, provenientes dos Estados vizinhos. O episdio ocorreu simultaneamente com dois outros levantes militares frustrados no Recife e no Rio de Janeiro, desencadeando numa violenta represso que levou priso de milhares de cidados, entre eles o lder comunista Lus Carlos Prestes, e culminou com o golpe militar de 1937 que implantou o regime de direita denominado Estado Novo. Finalmente, apesar do curto perodo, da ausncia de medidas sociais de maior vulto e da desorientao de seus lderes, entrou para a histria como a primeira experincia comunista de governo no continente americano.

No tenho a pretenso de analisar sociologicamente as causas da revolta ou as suas conseqncias para histria poltica do Pas, mas apenas oferecer s novas geraes com base na razovel literatura existente, em pesquisa na imprensa da poca e na memria pessoal do autor, na condio de filho e neto de contemporneos do episdio, as informaes que possam ajudar a dirimir algumas das dvidas existentes. Constitui tambm uma homenagem queles que, de um lado ou de outro, acertada ou equivocadamente, h 70 anos, com idealismo e patriotismo, lutaram por mudanas sociais ou defenderam a legalidade.

Os antecedentes nacionais
A partir de 1932 o pas viveu uma fase de agitao poltica, social e militar, talvez nunca igualada em outros perodos de nossa histria e que somente terminou no final de 1935, com as revoltas militares do Rio de Janeiro, Recife e Natal, cuja derrota deu incio ao longo perodo de represso que culminou com a implantao do Estado Novo, em 1937, e findou com a redemocratizao e a deposio de Vargas, em 1945.

A revoluo de 1930, tendo como bandeiras a representatividade do voto popular, o combate ao coronelismo poltico, corrupo e ao atraso econmico, derrubou a Repblica Velha, cujos principais expoentes eram os chefes polticos tradicionais de So Paulo e Minas Gerais, que se alternavam no poder, na chamada “poltica do caf com leite”, numa aluso s principais atividades econmicas daqueles Estados. A ascenso de Getlio Vargas ao governo provisrio foi fruto de uma aliana heterognea de polticos emergentes com dissidentes oportunistas do antigo regime e uma gerao de jovens militares idealistas e politizados que h uma dcada lutavam por reformas polticas, atravs de intervenes militares.

A primeira dessas foi o levante da guarnio do Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922, liderada pelos tenentes Eduardo Gomes e Siqueira Campos, um episdio que ficou conhecido como “Os Dezoito do Forte” e foi o ponto de partida do movimento conhecido como “Tenentismo”, que empolgou toda uma gerao de militares, divididos ao longo de quadro dcadas entre vrias tendncias ideolgicas, sendo alguns de seus expoentes, como Juarez Tvora, Cordeiro de Farias, Juraci Magalhes e Ernesto Geisel, orientadores do golpe militar de 1964. O Tenentismo era um movimento ao mesmo tempo nacionalista, contra a dependncia do capital externo, antioligrquico, no combate ao coronelismo poltico e moralista, combatendo a corrupo nos vrios nveis de governo. A grande contradio do movimento tenentista reside em sucessivas tentativas de purificao da democracia e valorizao do voto popular atravs de intervenes militares, dentro da tradio das foras armadas, desde a proclamao da repblica. Em 1924, ocorreu o segundo 5 de julho, com o levante das guarnies do exrcito e da Fora Pblica de So Paulo e de quartis de exrcito na fronteira do Rio Grande do Sul, que ao serem reprimidas pelas foras legalistas, promoveram uma retirada estratgica e se uniram naquela que seria a lendria Coluna Prestes, comandada pelo capito Lus Carlos Prestes e que contando com 1.500 homens, percorreria 25 mil quilmetros em 14 Estados, durante 30 meses, at exilar-se na Bolvia, em 24 de maro de 1927.

A extraordinria capacidade de liderana militar, os dotes de estrategista exmio, a austeridade pessoal e o carter inatacvel do jovem capito de 24 anos, somaram-se fama que a “coluna invicta” angariou no imaginrio popular, e resultou na entrega simblica a Lus Carlos Prestes da liderana do tenentismo e por extenso, daquela que ento se denominava a Revoluo Brasileira, antioligrquica, liberal, moralista e industrializante. Exilado na Bolvia e a seguir na Argentina, Prestes no era mais o idealista apoltico. Iniciou-se na leitura de Marx e nos contatos com os comunistas argentinos. Aps a derrota de Getlio Vargas nas eleies presidenciais de 1930 para o candidato do presidente Washington Lus, Prestes, a a ser assediado pelos tenentes e pelo prprio Vargas, para assumir o comando do movimento militar. A essa altura, descrente da democracia liberal-burguesa, funda a Liga de Ao Revolucionria, de existncia efmera, recusa a adeso Aliana Liberal no famoso manifesto em que renega seu ado tenentista e afasta-se da maioria de seus mais destacados comandados da Coluna, que apiam Vargas, com ele chegam ao poder em outubro de 1930 e assumem importantes funes no Governo Provisrio e tornam-se interventores em vrios Estados. Combatido pelo Partido Comunista do Brasil que, fundado em 1922, seguia ento uma linha sectria, “obreirista”, Prestes faz contato direto com a Internacional Comunista e convidado para ar uma temporada de estudos do marxismo-leninismo na Unio Sovitica, para onde viaja em setembro de 1931 e onde permanece at abril de 1934, quando chega ao Brasil, em companhia de Olga Benrio.

Enquanto isso, a situao poltica no Brasil, deteriorava-se em face da crise econmica e das contradies existentes no interior do Governo Vargas, um amontoado heterogneo de interesses conflitantes: os “tenentes” insatisfeitos com a ausncia de reformas sociais, os cafeicultores e industriais paulistas inconformados com a perda do mando, os liberais clamando por eleies. Em 1932 eclode a Revoluo Constitucionalista em So Paulo que, mesmo derrotada, consegue um objetivo: pressionado, Vargas convoca eleies para uma Assemblia Nacional Constituinte que, instalada em 15 de novembro de 1933, foi palco e iniciou um perodo de dois anos dos mais agitados da vida parlamentar brasileira.

Apesar da ampla maioria obtida pelo governo e da eleio indireta de Vargas para um mandato constitucional de quatro anos (1934-1938), uma aguerrida bancada de oposio repercutia no congresso a agitao e a polarizao ideolgica existente no pas. Plnio Salgado fundaria em 1933, a Ao Integralista Brasileira, organizao de orientao fascista que empolgou os setores de direita, inclusive com forte penetrao nos quartis e marcada linha anticomunista. De outro lado, comeavam a se articular os setores democrticos de esquerda, que incluam socialistas, nacionalistas, trotskistas, operrios, camponeses, intelectuais e estudantes, para a formao de uma organizao que contrabalanasse o crescimento do fascismo e forasse o Governo Vargas a tomar medidas populares.

Instalada em maro de 1934, a Aliana Nacional Libertadora era uma frente ampla, cuja principal fora era constituda pelos tenentes dissidentes da Revoluo de 1930, inconformados com os rumos tomados e que ainda reconheciam em Prestes o seu lder e comandante. Seu presidente era o capito da marinha Hercolino Cascardo, revolucionrio de 1930, democrata de esquerda e interventor federal no Rio Grande do Norte, de julho de 1931 a julho de 1932. Oito dos dezessete membros do Diretrio Nacional eram militares. O Partido Comunista do Brasil somente a ela aderiu aps a deciso da Internacional Comunista de recomendar aos seus partidos filiados, a poltica de frente popular. Antes disso, porm, muitos “tenentes” comunistas haviam aderido. A chegada de Prestes ao Brasil, seu apoio Aliana Nacional Libertadora (ANL), e sua escolha para presidente de honra incendiaram o tenentismo, aumentou a adeso ao movimento e produziu uma seqncia de assemblias e manifestaes populares, que culminaram com os grandes comcios do dia 5 de julho, em So Paulo e no Rio de Janeiro. Neste, o estudante Carlos Lacerda leu o manifesto de Prestes, sectrio e provocativo, que ao final proclamava: “Abaixo o fascismo, por um Governo Popular Nacional Revolucionrio, todo o poder ANL”. Seis dias depois, o governo publicou o decreto de fechamento da ANL e a priso de numerosos oficiais aliancistas. Esses atos, embora no justificassem, influenciaram decisivamente a ecloso dos levantes de novembro.

Compreensivelmente, desde a adeso de Prestes ao marxismo-leninismo em 1929, o Partido Comunista o rejeitava, em parte pelo radicalismo da linha “obreirista” que afastou da direo os intelectuais, substitudos por quadros oriundos do operariado. Alegando sua origem pequeno-burguesa e seu personalismo. Na realidade, temiam que seu prestgio popular se sobrepujasse ao partido e faziam forte oposio ao que ento se denominava “prestismo”. Seu ingresso no PCB somente ocorreu por imposio da Internacional Comunista, na ocasio da ida dos integrantes do Comit Central a Moscou, para participar do VII Congresso da Internacional Comunista (IC), em outubro de 1934. Nessa ocasio foi tambm decidida a volta de Prestes ao Brasil e a preparao para instalao no Rio de Janeiro, do Bureau Sul-Amrica da IC, que seria transferido de Buenos Aires, para o que, a pedido do Comit Central, foram destacados cinco quadros da organizao com funes de assessoramento, entre eles Olga Benrio e Arthur Ernst Ewent, o “Harry Berger”, ambos alemes. No primeiro semestre de 1934, assume o cargo de Secretrio Geral do PCB, Antnio Maciel Bonfim, o Miranda, um professor primrio do interior da Bahia, que ascendeu graas poltica “obreirista” do partido e seu reconhecido poder de envolvimento, inclusive dos membros da Internacional. Seus relatrios, tanto para Moscou como para o Comit Central (CC), em tom triunfalista alegava que o Brasil estava pronto para a revoluo socialista, com intensa mobilizao no campo (o que era uma fantasia), nos sindicatos (um exagero) e no meio militar. Prestes, afastado da realidade brasileira devido a dez anos de lutas, exlio e clandestinidade, dotado de uma personalidade destituda de sentido pragmtico e de oportunidade, fatalmente entregou-se aos mesmos devaneios.

A partir de julho de 1935, fechado o nico canal de atuao poltica legal, a ANL, os tenentes aliancistas e comunistas recomearam a prtica do esporte preferido de sua gerao h treze anos: a conspirao. E a preparao daquilo que sua formao autocrtica entendia como a forma mais justa de tomar o poder para realizar as reformas que julgavam necessrias para o pas: o levante, o golpe. Em vrias guarnies do pas, mas principalmente no Rio de Janeiro, em Recife, Macei, Joo Pessoa, Natal, Belm e Manaus, articulavam-se oficiais, sargentos e cabos para um movimento militar que no se sabia quando ou onde comearia, mas para o qual todos tinham uma certeza: o comandante seria Lus Carlos Prestes.

Os antecedentes locais
As agitaes polticas e sociais da primeira metade da dcada de 1930 repercutiram no Rio Grande do Norte de forma amplificada. Com a vitria da Revoluo Liberal e a deposio do presidente Washington Lus, findava em nosso Estado um ciclo de dominao poltica iniciado com a proclamao da Repblica e a instaurao da oligarquia dos Albuquerque Maranho, da qual as expresses principais foram os presidentes (denominao dada na poca aos governadores) Pedro Velho (o lder, falecido precocemente), Alberto Maranho (dois mandatos), Ferreira Chaves e Tavares de Lira. Diretamente ou atravs de prepostos, esse grupo, favorecido pelas “eleies a bico de pena”, conduziu os destinos do Rio Grande do Norte at o incio da dcada de 1920, quando consolidou a sua fora poltica, um coeso grupo de oligarquias familiares baseado no latifndio agropastoril e no poder local. Essa confederao de oligarquias tinha sua expresso mxima na Regio do Serid, de onde vinham suas principais lide ranas, entre as quais se destacava no final da dcada, como seu incontestvel comandante, Jos Augusto Bezerra de Medeiros, vrias vezes deputado geral (federal), senador e presidente (governador) no quatrinio 1924-1927, elegendo o seu sucessor. Jos Augusto era um lder nato. Inteligente, bom orador, ameno no trato, sedutor, conciliador e, sobretudo, excelente articulador, detinha o comando poltico com suavidade o que facilitava a coeso interna do partido e dificultava as aes da dbil oposio. Seu sucessor, o tambm seridoense Juvenal Lamartine de Faria, tinha temperamento diverso. Culto, estudioso das questes econmicas da regio, atualizado, com vocao mais dirigida para a ao istrativa que para a poltica, eleito para o quatrinio 1928-1931, realizou governo dinmico, modernizador, estimulador da cultura e dos esportes, mantenedor da ordem pblica. Criou o Aero Clube, implantou campos de pouso no interior, abriu estradas, foi pioneiro dos direitos femininos, fazendo aprovar legislao estadual que concedia o direito de voto mulher, pioneiro no pas. O combate ao banditismo e ao cangao, os excessos ocorridos e sua personalidade autoritria contriburam para o crescimento da oposio, principalmente nos redutos locais, sendo seu principal lder o jornalista e advogado trabalhista Joo Caf Filho. Deposto pela revoluo liberal e exilado na Europa, Lamartine foi substitudo por uma junta militar, em 5 de outubro de 1930.

A partir de 12 de outubro de 1930 at 29 de outubro de 1935, o Rio Grande do Norte teve cinco interventores nomeados pelo governo provisrio, chefiado por Vargas. Essa rotatividade de curtos perodos contribuiu para a descontinuidade istrativa e a instabilidade poltica. De 12 de outubro a 27 de novembro de 1930, Irineu Joffily, advogado paraibano, cuja dupla condio provocou ciumeira dos tenentes e dos polticos potiguares, resultando em desgaste e breve destituio. De 28 de novembro de 1930 a 2 de julho de 1931, Alusio Moura, tenente do exrcito e casado com natalense, seria depois chefe de polcia e comandante da polcia militar (1933-1934). De 3 de julho de 1931 a 10 de julho de 1932, o capito da marinha Hercolino Cascardo, catarinense, revolucionrio de primeira hora, tenentista de orientao esquerdista e que seria um ano depois, fundador e presidente da Aliana Nacional Libertadora. De 11 de julho de 1932 a 1 de agosto de 1933, Bertino Dutra, capito da marinha e tambm casado com natalense, que governou no perodo da revolta constitucionalista paulista de 1932 e destitudo de aptido poltica. Finalmente, em 2 de agosto de 1933, assume o primeiro civil e norte-rio-grandense, Mrio Leopoldo da Cmara, que veio com a misso especfica de preparar o terreno para dar a vitria no Estado, nas eleies de novembro de 1934 para Assemblia Estadual Constituinte, ao Governo Vargas. Filho de um prestigioso poltico de oposio da Repblica Velha, o ex-deputado Augusto Leopoldo da Cmara, residindo h muitos anos no Rio de Janeiro e portanto afastado do radicalismo local, alto funcionrio do Ministrio da Fazenda, adquiriu a confiana de Vargas como seu chefe de gabinete naquele ministrio no perodo de 1926 a 1927 e era seu oficial de gabinete na presidncia quando de sua designao para a interventoria.

Mrio Cmara trazia orientao de Vargas, de se aproximar de Jos Augusto e fazer uma composio com seu grupo poltico. Sua misso no parecia difcil. A grande maioria dos polticos da Repblica Velha, gradualmente iniciou sua aproximao com o governo federal a partir de 1931. O Partido Popular fundado por Jos Augusto em janeiro de 1933, reunindo os antigos situacionistas, elegera trs dos quatros deputados norte-rio-grandenses Assemblia Nacional Constituinte, que j haviam declarado apoio ao governo, inclusive eleio indireta de Vargas para presidente constitucional que ocorreria em 17 de julho de 1934. Histrica fotografia do ato de fundao do partido, mostra na primeira fila o jovem estudante Aluzio Alves, o qual aos 11 anos, j demonstrava a mesma precocidade poltica que o fez deputado federal aos 21 anos e governador aos 39 anos. O novo interventor foi recebido com boa vontade pelo Partido Popular e pelo seu jornal A Razo, e os entendimentos prosseguiram estimulados pela demisso do ento chefe de polcia, Caf Filho, tradicional adversrio do grupo oposicionista. O ime estabeleceu-se quando Cmara concordou com a participao dos populistas no governo com a condio de formao de um novo partido que congregasse os dois grupos. Temerosos de entregar o comando poltico ao interventor, os lderes recusam a auto-extino do seu Partido Popular e, apesar da interveno direta de Vargas, Mrio Cmara estimulado pelos correligionrios e picado pela “mosca azul”, funda em julho de 1934 o seu Partido Social Democrtico, coopta um deputado federal do PP, Francisco Martins Veras, articula os prefeitos (ento nomeados pelo interventor) e reconcilia-se com Caf Filho, formalizando uma coligao do PSD com o PSN, denominada Aliana Social. Estava dada a partida da mais radical das campanhas polticas de nosso Estado e que, marcada pela paixo e pela violncia, envolveu grande parte da oficialidade do exrcito destacada no 21BC.

A primeira manifestao de violncia ocorreu precocemente, com o assassinato em maio de 1934, cinco meses antes da eleio, do chefe oposicionista de Apodi, Francisco Pinto. Em agosto, durante comcio do Partido Popular, em Parelhas, houve tiroteio entre membros de ambas as faces, resultando em um morto e dois feridos. Em 13 de fevereiro de 1935, dias antes das eleies suplementares que foram realizadas em 39 sees eleitorais de 23 municpios, uma escolta da polcia militar com a misso de prender o agrnomo Otvio Lamartine, filho do ex-governador, baleou-o e causou sua morte, na fazenda Ing, em Acari, provocando grande comoo e indignao no Estado, com repercusso na imprensa e na Assemblia Nacional.

Durante toda a campanha eleitoral, que durou oito meses, foi notria a participao da maioria dos oficiais do 21BC em apoio ao Partido Popular, um fiel retrato da indisciplina que reinava nos quartis naquele perodo. Esse fato determinou uma disputa junto ao Ministrio da Guerra, entre o interventor, com prestgio no gabinete presidencial e Jos Augusto, muito ligado s bancadas gacha e mineira. No entrevero, bem ao seu estilo, Vargas “cozinhou” os dois lados at o final do processo. Merece registro, por retratar muito bem o ambiente de boatos e intrigas, a solicitao do interventor ao comandante da regio militar para a transferncia de dez sargentos que supostamente tambm estariam apoiando a oposio “liberal”. Curiosamente, quatro deles estiveram entre os mais destacados lderes do levante de novembro. As eleies realizaram-se em 14 de outubro de 1934 e tiveram a participao tambm do Partido Comunista do Brasil (com chapa encabeada por Lauro Reginaldo da Rocha, membro do Comit Central Nacional e norte-rio-grandense) e da Ao Integralista Brasileira (encabeada pelo advogado Oto de Brito Guerra). Um recurso da Aliana Social acatado pelo TSE e eleies suplementares so realizadas em fevereiro de 1935. Somente em 16 de outubro de 1935 de 1935, o Tribunal Superior Eleitoral proclamou o resultado final: o Partido Popular elegeu trs dos cinco deputados federais (Jos Augusto, Ferreira de Souza, senador de 1946 a 1954, e Alberto Roselli) e a Aliana Social, dois (Caf Filho e Martins Veras); dos 25 deputados federais, 14 eram do PP (entre eles, Jos Augusto Varela, governador de 1947 a 1950, Aldo Fernandes, futuro secretrio-geral do estado e Maria do Cu Pereira, primeira parlamentar eleita no Brasil) e 11 da Aliana Social (entre eles Djalma Marinho, vrias vezes deputado federal no perodo de 1950 a 1974). Foi tambm marcada a data para a instalao da Assemblia e eleio indireta do governador e dois senadores: 29 de outubro de 1935.

A partir do ms de abril, com a divulgao do resultado parcial das eleies dando a vitria oposio e a perspectiva da volta ao poder dos depostos em 1930 e com o fechamento da Aliana Nacional Libertadora no ms de julho, o ambiente poltico adquiriu uma temperatura mais elevada. No interior do Estado grupos civis armados, provocavam agitao e no Rio de Janeiro, o interventor usava o seu antigo prestgio na tentativa de virar o jogo: influir nas decises do TSE ou cooptar dois dos deputados da oposio.

No quartel do 21BC a situao no era das mais calmas. Alm dos baixos salrios e ms condies de trabalho, pairava sobre sargentos, cabos e soldados a ameaa de cumprimento de decreto presidencial que autorizava o ministrio a dispensar aqueles que contassem com menos de dez anos de servio e a reformar quem tivesse mais de vinte anos. Com o fechamento da ANL, os seus filiados, que eram muitos, ficaram sem um canal de expresso poltica e aram a conspirar.

Desde 1926, as primeiras clulas do Partido Comunista em Natal comearam a atuar, sob a liderana dos sapateiros Jos Praxedes e Aristides Galvo e, em Mossor, com Raimundo Reginaldo da Rocha. A partir de 1933, com a abertura poltica devida convocao das eleies para a constituinte e a criao da Aliana Nacional Libertadora, os trabalhos de organizao do partido se intensificaram, culminando com a 1 Conferncia Estadual realizada em abril de 1935, em Natal, quando foi formalmente eleita sua primeira direo, constituda pelos trs j citados, mais Francisco Moreira e Lauro Lago, ento diretor da Casa de Deteno, a penitenciria estadual. Nesta reunio estiveram presentes Joo Batista Galvo, servidor pblico estadual, em cuja residncia de solteiro se realizava a maioria das reunies do partido, e Jos Macedo, funcionrio do Departamento dos Correios. Seguindo orientao do Comit Central e da Internacional Comunista, as aes do partido estavam direcionadas para trs focos: o movimento operrio (o PCB controlava a direo dos dois maiores sindicatos do Estado, o dos estivadores de Natal e o dos salineiros, de Mossor, alm do sindicato dos sapateiros, de Natal), o movimento campons (havia movimento armado no campo, no Vale do Au e em Areia Branca) e na rea militar (eram membros do partido os sargentos Quintino Clementino de Barros e Eliziel Diniz Henriques e o cabo Giocondo Dias, que na dcada de 1980, seria secretrio geral do PCB). No 21BC havia duas dezenas de sargentos e cabos aliancistas e com ligaes com o partido e que conspiravam permanentemente. Entre maro e novembro de 1935 estiveram em Natal, conspirando e aliciando oficiais e subalternos para um golpe armado com o objetivo de depor Vargas e implantar um regime militar, vrios “tenentes” aliancistas: em maro, o capito Otaclio Lima, lotado no 29BC de Recife e membro do PCB, vem a pretexto de viagem de inspeo e articula-se com sargentos do 21BC; em julho, o capito da marinha Roberto Sisson, ex-vice-presidente da ANL, com a mesma finalidade; tambm em julho, o tenente Joo Cabanas, legendrio participante da Coluna Prestes, visita Natal e a regio da guerrilha camponesa no Vale do Au; em agosto, o capito Silo Meireles, tambm do 29BC e comunista.

Desde o ms de junho de 1935, encontrava-se em Natal, designado pelo comit central do Partido Comunista, Joo Lopes, destacado membro do secretariado poltico, com a misso de assessorar a direo estadual e com a orientao de impedir o envolvimento do partido em aventura golpista. Recebeu do comit central o codinome “Santa” e ficou em Natal at o dia 27 de novembro, tendo importante papel nos acontecimentos.

Nos dias que sucederam a proclamao dos resultados eleitorais, a bancada oposicionista viajou para Joo Pessoa, onde foi recebida pelo governo paraibano, alegadamente por motivos de segurana, mas tambm com a finalidade de evitar a possibilidade, muito comentada na poca, de cooptao de pelo menos dois deputados, o que inverteria o resultado da eleio indireta para 12 a 13.

Em 27 de novembro, o interventor Mrio Cmara transmite o cargo ao coronel Liberato Barroso, comandante interino do 21BC, e embarca no dia seguinte, de navio, para o Rio de Janeiro. Em 29, realiza-se a eleio indireta com o resultado esperado: Rafael Fernandes, ex-deputado federal e estadual, principal lder da poltica mossoroense, recebeu 14 votos e o desembargador Elviro Carrilho, candidato simblico, 11 votos. Com a posse imediata, aps exatos cinco anos, os grupos oligrquicos retornavam ao poder e como sempre acontecia, iniciava-se a revanche.

Em todo o Estado foi iniciado o processo de substituio, no somente de prefeitos e delegados de polcia, mas em todos os nveis da istrao, inclusive do Ministrio Pblico, acirrando ainda mais os nimos e fomentando a revolta. Houve um fato que envolveu um segmento especfico do funcionalismo: a extino da Guarda Civil e a demisso em massa de seus componentes. Criada por Mrio Cmara, com seus componentes recrutados entre correligionrios e segundo a oposio, em muitos casos, com antecedentes de violncia e at de criminalidade, a Guarda Civil, com desvio de funes, merecia um expurgo. No entanto a demisso indiscriminada de trs centenas de seus participantes, com a agravante de ter sido previamente anunciada, transformou parte dos demitidos em conspiradores e insufladores da revolta dos descontentes subalternos do 21BC, com sua demisso tambm anunciada. Finalmente, na sexta-feira, 22 de novembro, o secretrio geral do estado determina a demisso, por motivos ideolgicos, do diretor da Casa de Deteno e servidor da polcia civil, Lauro Lago (na realidade, membro do CC do PCB, mas no envolvido na conspirao). Os atores achavam-se na coxia, aguardando as trs batidas convencionais para adentrar o palco.

O teatro dos acontecimentos
A cidade de Natal, no ano de 1935, era uma cidade provinciana de aproximadamente 42 mil habitantes, o equivalente a apenas cinco por cento da populao do Estado. Com a atividade econmica baseada na agricultura e na pecuria, a populao do Rio Grande do Norte era predominantemente rural, a capital sediava as incipientes atividades istrativas, o ensino de primeiro grau e umas poucas indstrias de transformao.

A rea urbana encontrava-se circunscrita a um permetro limitado a leste pelas praias do Meio e de Areia Preta, ao norte o Rio Potengi, ao sul a cadeia de dunas acompanhada pela Avenida Hermes da Fonseca e ao oeste, uma linha imaginria que partindo do atual Aero Clube, acompanhasse a rua presidente Sarmento (Avenida 4) at o Potengi. Areia Preta possua algumas casas de veraneio e Braslia Teimosa e Santos Reis eram um grande areal (alis, denominao que persiste at hoje, em certo trecho).

Nas Rocas, concentrava-se uma populao predominantemente operria e de estivadores e porturios, o que explica a intensa atividade poltica no bairro, que abrigava a maioria dos militantes do Partido Comunista e dos sindicatos.

A Ribeira sediava as principais reparties pblicas estaduais e federais, o comrcio atacadista e o sofisticado, bares e jornais. Na Rua Tavares de Lira, o centro nevrlgico da cidade (equivalente ao Grande Ponto das dcadas de 1950 a 1970), o Banco do Brasil, o Caf Cova da Ona (onde havia tradicionais rodas de polticos, empresrios e profissionais liberais), o Hotel Internacional (na esquina da Rua Chile) e ao final, o cais onde faziam o translado, em lanchas para os navios, os ageiros do nico meio de transporte para o Sul do Brasil. Na Tavares de Lira tambm se realizavam os festejos carnavalescos e as concentraes polticas. Na Duque de Caxias e ruas adjacentes residiam famlias de classe mdia e alta, algumas protagonistas dos episdios adiante descritos.

Na Praa Augusto Severo, o Teatro Carlos Gomes, nica casa de espetculos do gnero era tambm o grande auditrio onde ocorriam as principais solenidades da cidade. No outro lado da praa, situava-se o Cinema Politheama.

A Assemblia Legislativa, instalada em 29 de novembro, aps recesso de cinco anos, funcionava no prdio que hoje sedia a Ordem dos Advogados do Brasil, seo do Rio Grande do Norte. Defronte, a Praa Toms de Arajo, onde seria construda a atual sede do SESC e do outro lado da mesma, o Quartel do 21 Batalho de Caadores, no terreno hoje ocupado pelo Colgio Estadual Winston Churchill. No quarteiro ao lado, onde hoje se situa a agncia do Banco do Brasil, o mercado pblico da Cidade Alta, na poca o nico existente. Ainda na Avenida Junqueira Aires (atual Cmara Cascudo) no prdio hoje ocupado pela Capitania das Artes, a Escola de Aprendizes Marinheiros, nica unidade naval sediada em Natal.

Cruzando as praas Sete de Setembro, Andr de Albuquerque e Joo Tibrcio e descendo em demanda do Rio Potengi, vamos encontrar na velha Rua da Salgadeira, onde hoje funciona a Casa do Estudante, o quartel do Batalho de Polcia Militar, cenrio da principal batalha ocorrida em Natal.

No ano de 1935, os estabelecimentos que ministravam o ensino formal de primeiro grau eram em nmero reduzido, compreendendo o velho Atheneu Norte-riograndense, no prdio hoje ocupado pela Secretaria Municipal de Finanas, a Escola Normal, na Rua da Conceio (ao lado da atual Assemblia Legislativa), o Ginsio Santo Antonio (no atual convento do mesmo nome), o Ginsio Nossa Senhora das Neves, no Alecrim, o Ginsio Pedro II, na Avenida Rio Branco, por trs do teatro e a Escola Domstica, na Ribeira, onde hoje funciona o Centro Clnico Dr. Jos Carlos os.

Trs jornais tinham circulao diria: A Repblica, rgo oficial do Estado, dirigido pelo advogado Edgar Barbosa; A Razo, rgo do Partido Popular, fundado em 1934, durante a campanha eleitoral e que encerrou suas atividades aps a posse do governador Rafael Fernandes; O Jornal, dirigido pelo jornalista e advogado provisionado Joo Caf Filho, que exercia o papel de principal voz de oposio desde os ltimos anos da Repblica Velha; e A Ordem, folha catlica, poca com orientao fortemente integralista.

As nicas agremiaes sociais eram o Natal Clube, na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Joo Pessoa, e o Clube Carneirinho de Ouro, na Avenida Tavares de Lira, que mesmo com atividades reduzidas, sobrevive at os nossos dias.

Nos esportes, o remo atraa a ateno da sociedade, disputado entre o Centro Nutico Potengi e o Sport Clube de Natal, com suas sedes na Rua Chile, s margens do Potengi, onde as regatas domingueiras mobilizavam a populao. O futebol iniciava a consolidao de sua popularidade, deixando a prtica improvisada nas praas Pedro Velho e Pio X, j realizando seus campeonatos no ento chamado “Campo da ARA”, atual estdio Juvenal Lamartine, onde rivalizavam ABC, Amrica e Alecrim, fundados em 1915. Nesse ano de 1935, como sempre sob o comando de Vicente Farache, o ABC Futebol Clube sagrou-se tetracampeo, com um time histrico formado por Edgar, Nezinho e Dorcelino; Adalberto, Hermes e Accio; Oscar, Simo, Xixico, Mrio Crise e Edevaldo.

O nico meio de transporte coletivo era o bonde eltrico, implantado na dcada de 1920 e que sobreviveu at 1954. Seu trajeto, partindo da Ribeira, cursava a Duque de Caxias, Praa Augusto Severo, Junqueira Aires, Ulisses Caldas e Rio Branco, terminando na Praa Padre Joo Maria. Do Grande Ponto, saam trs linhas em demanda dos novos bairros residenciais: para Petrpolis, seguindo a Joo Pessoa, Deodoro, Praa Pedro Velho, Nilo Peanha e Getlio Vargas, onde findava; para o Tirol, pela Jundia e Hermes da Fonseca, at o Aero Clube; para o Alecrim, descendo a Rio Branco, subindo a Amaro Barreto e pela Presidente Quaresma chegando Rua So Joo, em Lagoa Seca. No havia mais que trs dezenas de automveis particulares na cidade e alguns poucos “carros de aluguel”. O sistema de telefonia, embora existente h mais de uma dcada, era precrio e limitado, com menos de uma centena de aparelhos. Tal deficincia de comunicaes, agravada pela coincidncia (ou pelo propsito) da ecloso do movimento ter ocorrido em um final de semana, teria fundamental importncia nos acontecimentos. Est montado o cenrio. Deixemos que os atores saiam da coxia e adentrem o palco.

23 de novembro de 1935, sbado
9h – O bacharel Joo Medeiros Filho, Chefe de Polcia, recebe telefonema do 21BC, informando o desligamento de praas, por incapacidade moral.

O jornal A Repblica, rgo oficial do governo do Estado, noticiava a realizao noite, no Teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranho, de solenidade de colao de grau do Colgio Santo Antnio, ento funcionando nas dependncias do atual convento e confirmava a presena do governador Rafael Fernandes. Informava ainda estar ancorado no cais do porto, uma esquadrilha mexicana, composta de seis navios, em operaes de treinamento.

O secretrio geral do governo, Aldo Fernandes, teria recebido em palcio informaes acerca de “reunies de carter subversivo” com a participao de Lauro Lago, que recentemente havia sido demitido da direo da Casa de Deteno, aps a posse do novo governo.

No quartel do 21BC chegou expediente do comandante da 7 Regio Militar oficializando o desligamento dos primeiros 30 soldados, cabos e sargentos com o tempo de convocao extinto e a informao de que na segunda-feira, 25, chegaria nova relao.

12h – Findo o expediente da manh e por ser sbado, os oficiais e praas foram dispensados com a obrigao de apresentar-se para a revista, somente s 21 horas, ficando no quartel apenas o pessoal da guarda e o oficial de dia, tenente Abel Cabral Batista.

15h – A direo do Partido Comunista que se encontrava reunida com o enviado do comit central nacional Joo Lopes, o “Santa”, recebe a visita do cabo Giocondo Dias e do sargento Quintino Clementino de Barros para transmitir informaes de que a tropa estava revoltada e um levante era iminente. Apesar da discordncia inicial dos dirigentes do partido, que no haviam recebido instrues do comit do Recife, ao final da reunio, por volta das dezesseis horas, a direo curvou-se ao fato consumado, solicitando um prazo, para arregimentar seus quadros (basicamente estivadores e porturios) e fez uma nica exigncia: todos os civis deveriam usar fardas do exrcito e estar armados. Quintino e Giocondo voltaram ao quartel e a direo do partido iniciou a mobilizao de seus filiados e simpatizantes, ficando estabelecido que a deflagrao do levante seria naquela noite.

18h – Na Vila Cincinato, residncia oficial do governador, situada Praa Pedro Velho, de frente para o atual Palcio dos Esportes Djalma Maranho, no prdio hoje ocupado por repartio da Secretaria da Educao, o governador Rafael Fernandes, aps o jantar, acompanhado do secretrio geral Aldo Fernandes e do ajudante de ordens capito Jos Bezerra de Andrade, dirigese ao Teatro Carlos Gomes para presidir a solenidade de colao de grau e a seguir, assistir encenao pelos alunos da pea “A Vitria da Cruz”. Um dos formando com idade de 14 anos era Geraldo Ramos dos Santos, tradicional empresrio do ramo automotivo, que hoje aos 84 anos, guarda uma viva memria do episdio e dos fatos ocorridos nos dias que se seguiram. No recinto encontravam-se alm das mais altas autoridades como o prefeito de Natal, Gentil Ferreira de Souza, e diretores de departamentos da istrao estadual, todo o grand monde natalense.

18h30m – Joaquim Incio Torres, “seu Torres”, farmacutico e professor do Ateneu, figura folclrica da cidade, residindo na Avenida Rio Branco, prximo ao quartel, aps o jantar senta em cadeira na calada, para fumar seu charuto. Cascudo, no livro O Tempo e Eu, conta o episdio: ou um cabo do exrcito e vendo aquela tranqilidade, segredou-lhe:

“Seu Torres melhor o senhor entrar. Vai comear uma revoluo no quartel e deve haver tiroteio. – Revoluo, ? Est certo, obrigado. No perguntou que revoluo era, nem para que e meteu-se na sala. Meia hora depois, como nada ocorresse, levou a cadeira para fora e continuou fumando. ou um soldado correndo e Torres gritou: Como ? Essa revoluo vem ou no vem? Comecem logo, que coisa mais demorada! - Vai rebentar logo, seu Torres, mas no se arrisque, entre... e saiu convencido que o velho professor do Ateneu estava inteiramente sabedor da conspirao”.

19h30m – Dando seqncia aos preparativos que vinham sendo feitos desde o final da tarde, o cabo Giocondo Dias e o soldado Raimundo Tarol deram voz de priso ao sargento, chefe da guarda, e ao oficial de dia. Ao mesmo tempo, comandados pelos sargentos Quintino Clementino de Barros e Eliziel Diniz Henrique, os praas comprometidos com o levante ocupam as posies estratgicas do quartel, soltam os soldados presos no xadrez e aliciam os indecisos. Ao toque de recolher que ecoou no centro da cidade, acorreram oficiais e praas que residiam ou se encontravam nas imediaes. Os praas receberam comunicao que o quartel estava de prontido; os oficiais, instados a aderir, negaram-se e recusaram assumir o comando oferecido. Em vista disso, assumiu o comando militar formal do movimento, o sargento Quintino Clementino de Barros que, alm de senso de organizao, demonstrou equilbrio nos dias que se sucederam, evitando ou condenando violncias e arbitrariedades. Fez recolher presos no cassino os poucos oficiais que atenderam ao toque, em nmero de sete, sendo um capito e seis tenentes. Vale ressaltar que havia dezoito oficiais no contingente do batalho, tendo a maioria se refugiado em residncias de amigos e parentes ou no interior do Estado.

Assumido o controle da unidade, os insurrectos efetuaram sucessivos disparos para o alto, sinal combinado como aviso para os civis que se achavam comprometidos, aos quais foram distribudos fardamento militar, armas e munies. Curiosamente, os tiros disparados serviram tambm de alerta s autoridades e principal fora militar legalista, a Polcia Militar, de vez que seu QG, no prdio hoje ocupado pala Casa do Estudante, estava a pouco mais de um quilmetro do 21BC. Por outro lado, apenas trs quarteires separavam o local da rebelio do teatro, onde se encontravam as principais autoridades.

Encontrando-se no Grande Ponto, o chefe de polcia (equivalente hoje s funes de secretrio da Segurana Pblica), ouvindo os tiros e identificando a origem, mas sem a menor idia de seu real significado, dirigiu-se ao quartel da PM onde sugeriu ao oficial de dia, capito Joaquim Teixeira de Moura, que entrasse de prontido e convocasse seu contingente, fazendo o mesmo na Inspetoria de Polcia Civil, localizada na atual sede do ITEP, na Avenida Duque de Caxias; depois, foi ao teatro onde conferenciou com o governador e voltou ao centro da cidade para averiguaes.

No teatro, os primeiros tiros foram ouvidos em meio solenidade, provocando natural alvoroo e a retirada de oficiais da marinha mexicana e dos comandantes militares Otaviano Pinto Soares, do 21BC, e major Luiz Jlio, da PM, alm de parte da platia. Reiniciada a cerimnia, com a intensificao do tiroteio, aumentou o pnico e efetuou-se a disperso dos assistentes, inclusive das autoridades. O governador, acompanhado do secretrio geral e do ajudante de ordens, dirigiu-se Inspetoria de Polcia e como os tiros j estivessem sendo disparados na Praa Augusto Severo, optaram por solicitar abrigo na residncia do comerciante Xavier de Miranda, na Avenida Duque de Caxias, onde aram a noite e aguardaram contatos com informaes mais precisas. No mesmo momento, o prefeito Gentil Ferreira, o presidente da Assemblia Legislativa, monsenhor Joo da Mata Paiva, o chefe de gabinete do governador, bacharel Paulo Pinheiro de Viveiros e o diretor do jornal oficial A Repblica, bacharel e jornalista Edgar Barbosa, refugiaram-se na residncia do comerciante Amador Lamas, irmo do cnsul honorrio do Chile, comerciante Carlos Lamas, tambm na Ribeira.

Enquanto isso, acorrem ao 21BC algumas dezenas de operrios, principalmente estivadores e sapateiros e antigos guardas civis que ao chegar recebem fardamento do exrcito, armas e munio. Com o controle total do quartel e seu contingente acrescido de grande nmero de civis, os rebeldes trataram de dominar a capital, sendo formadas diversas patrulhas com a finalidade de ocupar os pontos estratgicos: o palcio do governo, a residncia do governador, o Banco do Brasil, a sede da polcia civil, a Companhia Fora e Luz (eletricidade), o telgrafo, a companhia telefnica, o cais do porto e a estao ferroviria. A seguir, foram formados dois destacamentos, sendo o primeiro para assumir o controle da Casa de Deteno (onde hoje fica o Centro de Turismo), o que foi feito sem nenhuma resistncia, tendo a guarda se retirado pelos fundos, atravs das dunas situadas na rea da atual Rua do Motor; o segundo dirigiu-se ao Esquadro de Cavalaria, onde aps breve tiroteio durante a noite seus defensores comandados pelo tenente Severino Raul Gadelha e em desvantagem, retiraram-se atravs das dunas (o esquadro estava localizado no terreno onde foi edificada a Escola Domstica). Na breve luta na Casa de Deteno ocorreu a primeira morte da insurreio: um preso de justia Jos Pedro Celestino, que antes de ser libertado, foi baleado pela guarda do presdio.

20h – Joo Medeiros Filho, aps tomar as primeiras providncias na Ribeira, dirigi-se ao Grande Ponto no automvel particular do comerciante Daniel Serquiz e em companhia do fotgrafo Jos Seabra, com a finalidade de colher maiores informaes acerca do movimento. Mesmo sabendo que o mesmo tinha origem no 21BC, de ter encontrado uma patrulha do exrcito guardando a sede do Banco do Brasil e seu automvel oficial ter sido alvejado por tiros na Duque de Caxias, ao encontrar o sargento Amaro Pereira que comandava uma patrulha na Rua Joo Pessoa, inadvertidamente aceita o convite para dirigir-se ao 21BC, onde um oficial lhe daria informaes mais precisas. Ao transpor o porto do quartel imediatamente preso e recolhido ao xadrez onde permaneceu at a madrugada do dia 27, privando a cidade e o estado de sua principal autoridade policial, elemento importante para a coordenao de sua defesa. Nessa mesma hora, o cabo Giocondo Dias, ao descer a Avenida Rio Branco no comando de uma patrulha, trava tiroteio com policiais militares, baleado superficialmente na cabea sendo internado no Hospital Miguel Couto (atual Onofre Lopes), onde permanece tambm at o final. Um anticlmax para dois atores que estavam fadados a ser os personagens principais.

20h 30m – O major Luiz Jlio, comandante da Polcia Militar, que havia recebido telefonema do oficial de dia, capito Joaquim Teixeira de Moura, informando que o quartel estava sendo atacado e tendo se dirigido residncia do governador, l se encontrou com o tenente-coronel Jos Otaviano Pinto Soares, que h duas semanas era o novo comandante do 21BC. A p, ambos dirigiram-se ao quartel da PM, nesse momento sendo atacado por pequena fora, conseguindo o intento de penetrar e comandar a organizao da defesa. Nesse nterim, atrados pelos tiros, comunicados por telefone ou convocados pelo toque de reunir, dezenas de sargentos e praas conseguiram chegar antes que o cerco fechasse.

21h – Estabelecido o controle da cidade, foi possvel aos rebelados direcionar para o ataque ao quartel da Polcia Militar o grosso de suas tropas, tanto militares, como civis que haviam aderido. A partir desse momento, e at o incio da tarde do domingo, dia 24, o quartel resistiu ao cerco, com sessenta e oito defensores, sendo cinco oficiais, vinte e quatro sargentos, trinta e quatro soldados e cinco civis. Alm do comandante e do oficial de dia j citados, os nicos oficiais que acorreram ao quartel foram os tenentes Francisco Bilac de Faria, Jos Paulino de Medeiros (o Zuza Paulino) e Pedro Slvio de Morais. Dentre os sargentos, inmeros chegaram ao posto de coronel e se destacaram na histria da corporao, como Celso Carlos Pinheiro, Sebastio Revordo, Bento Manuel de Medeiros e Jlio Csar Pinheiro. Entre os civis, os servidores pblicos estaduais Joo Batista de Andrade, Lucrcio Pegado Cortez e Damasceno Bezerra. Para a luta, o batalho contava apenas com quatro metralhadoras, trezentos fuzis, cinqenta e dois revlveres e cerca de trinta mil balas. A fora atacante era superior em nmero, com o triplo de combatentes, com armas modernas e com cerca de cento e trinta mil cartuchos, com os quais manteve o cerco ao quartel e combateu entrincheirada em situao favorvel, mais elevada, na esplanada que corresponde atual Praa Joo Tibrcio, durante toda noite do sbado, 24. Nessa noite, quem pode, saiu da cidade; quem ficou no dormiu com o barulho.

24 de novembro de 1935, domingo
8h – Com a cidade sob controle, restando apenas o quartel da PM resistindo, o comit regional do PCB rene-se com o comando militar e o assessor “Santa”, para definir as medidas istrativas e a estratgia militar, na residncia de um ferrovirio membro do partido, nas Rocas. Com a recusa de diversos oficiais convidados para assumir o comando militar do movimento, essa posio foi entregue ao sargento msico Quintino Clementino de Barros, norte-rio-grandense de Serra Negra, membro do PCB e lder natural entre seus pares. Em seguida, foi escolhido o Governo Popular Revolucionrio, constitudo por Lauro Lago, servidor da polcia civil, secretrio do Interior; Jos Macdo, tesoureiro dos Correios, secretrio de Finanas; Joo Batista Galvo, servidor do Ateneu Norterio-grandense, secretrio da Viao; Jos Praxedes de Andrade, sapateiro, secretrio de Abastecimento; e Quintino Clementino de Barros, secretrio da Defesa. Foi oferecido a “Santa” o cargo de presidente, que foi recusado, permanecendo o assessor dando sempre a ltima palavra em todas as decises. Todos os cinco componentes eram filiados ao Partido, sendo que dois, eram membros do comit regional.

9h – A junta de governo toma as primeiras medidas prticas. O presidente do sindicato dos estivadores Joo Francisco Gregrio recebe a incumbncia de assumir o comando militar do cais do porto, impedindo a entrada ou sada de qualquer navio, inclusive as seis corvetas mexicanas, dois cargueiros britnicos e um brasileiro, o embarque ou desembarque de ageiros e tripulantes, e a desativao de seus rdios/telgrafos e do farol martimo.

Durante a noite, haviam recebido asilo na esquadrilha mexicana, algumas pessoas entre as quais o mdico Aberdal de Figueirdo, o deputado Pedro Matos, o desembargador Silvino Bezerra e o capito Leonel Bastos, comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros. O capito havia abandonado a escola, atravessando o Rio Potengi em escaleres, com dezenas de alunos e retornando at o navio mexicano. O motorista Epifnio Guilhermino, membro do Partido Comunista, recebe a tarefa de requisitar automveis particulares e caminhes e organiza um grupo de motoristas, entre os quais Domcio Fernandes, que tambm teve destacada atuao no movimento. Vrios proprietrios foram procurados e tiveram seus veculos requisitados, entre eles os comerciantes Severino Alves Bila e Jos dos Santos, que eram concessionrios. Na mesma hora, em Currais Novos, o delegado geral Enock Garcia, que havia deixado a capital durante a madrugada, telegrafa a Dinarte Mariz, em Caic, relatando os acontecimentos e solicitando arregimentao de homens e armas. Dando seqncia, Dinarte telegrafa ao governador Argemiro Figueiredo, da Paraba e acerta o envio do pedido com a mxima urgncia.

10h – Jos Praxedes, provavelmente por sua condio de filiado mais antigo do PCB, era tido entre os membros da Junta de Governo, como seu coordenador, rene populares e partidrios na praa do mercado, em frente ao quartel do 21BC, para ler a proclamao do Governo Popular Revolucionrio, o que fez “subindo na mureta do quartel em meio a vivas Revoluo e a Prestes”.

11h – A Junta assume formalmente o governo do Estado em reunio na Vila Cincinato, residncia oficial do governador, editando ento seu primeiro decreto, que destitua o governador Rafael Fernandes e dissolvia a Assemblia Estadual Constituinte. Distribuiu comunicado “aos camaradas em armas e ao povo em geral”, apelando manuteno da ordem, respeito s pessoas e propriedade privada e dando garantia aos comerciantes para abertura dos estabelecimentos comerciais na segunda-feira. Em seu priplo na coleta de viaturas, ao ar pela Rua General Glicrio, na Ribeira (por trs da Igreja do Bom Jesus) ao avistar na porta da sua residncia o agente da Companhia de Navegao Costeira, Otaclio Werneck, sem motivo aparente o alvejou mortalmente. Por esse crime hediondo, que seria a segunda das quatro nicas mortes violentas ocorridas em Natal em quatro dias de lutas, receberia mais tarde a maior pena aplicada aos participantes da insurreio: trinta e trs anos de priso. Continuando sua trajetria de violncias, que incluiu o incndio de um cartrio e saque em um box do mercado pblico, ao tentar arrombar o armazm da viva Machado, desentendeu-se com um soldado do exrcito que o atingiu com um tiro, levando sua internao hospitalar e ao final de sua carreira de “revolucionrio”, poupando a cidade de sua sanha.

14h – Aps dezessete horas de combate, no havendo mais munio, o comandante Luiz Jlio rene seu estado-maior e decide pela retirada, evitando assim a rendio. A sada dos combatentes se d pelos fundos do quartel, situado em um barranco voltado para o mangue na margem do Potengi, onde hoje a a Avenida do Contorno. O objetivo era tentar alcanar a Ribeira ou o Alecrim pela margem do rio ou atravess-lo a nado. Dos oficiais, o nico a conseguir esta faanha foi o tenente Bilac de Faria, exmio nadador. Bilac, que tinha relao de parentesco com o ex-governador Juvenal Lamartine e na dcada de 1950 seria deputado estadual, destacou-se como um dos mais aguerridos combatentes durante o cerco. Todos os demais oficiais foram presos, juntamente com grande nmero de praas. O tenente Jos Paulino de Medeiros, o Zuza Paulino, que tambm se destacara pela bravura no combate, no momento da fuga foi atingido por uma rajada de metralhadora no brao, foi preso e transportado para o Hospital Miguel Couto, onde depois teve o antebrao esquerdo amputado. Zuza Paulino era um dos mais exaltados partidrios de Mrio Cmara na polcia militar e estava sofrendo presses do novo governo por suas posies polticas. Sua atitude legalista refora o entendimento de que apesar do elevado nmero de “maristas” que aderiram ao levante (inclusive na PM), essa no foi uma posio oficial da Aliana Social, nem do ex-interventor ou de Caf Filho. O major Luiz Jlio e o comandante do 21BC, tenente coronel Otaviano Pinto Soares seguiram pelo mangue, na tentativa de abrigar-se na Escola de Aprendizes Marinheiros, que no sabiam j estar ocupada pelos revoltosos desde a noite anterior. No trajeto, foram presos por uma patrulha e recolhidos ao xadrez do 21BC. No decorrer da luta apenas cinco combatentes sofreram ferimentos, todos de natureza leve, sendo um deles o futuro coronel Celso Pinheiro. Apenas uma morte (a terceira das quatro ocorridas em Natal durante todo o levante, de acordo com a documentao existente) foi registrada no longo combate pela posse do quartel da PM: do cidado Luiz Gonzaga. Esse fato ocasionou uma polmica que setenta anos depois no ficou completamente esclarecida. Luiz Gonzaga realmente participou dos combates dentro do quartel desde a primeira hora, tendo demonstrado muita coragem e afoiteza, sendo essa a causa de sua morte, pois no momento da retirada retardou a fuga, sendo alvejado pelo motorista Sizenando Filgueira, membro do PCB e dos mais ativos participantes do levante. A polmica situa-se no fato de que, at o ms de janeiro de 1936, nem o detalhado relato do rgo oficial A Repblica, nem os diversos relatrios oficiais, tampouco nos autos dos processos e nos julgamentos dos indiciados, h citao da morte e da condio de soldado da polcia militar de Luiz Gonzaga. A ausncia de divulgao da morte, que realmente ocorreu, levou alguns historiadores a aventurar a hiptese de que, o fato de no ter sido registrada, significaria que era um popular desconhecido, cujo alistamento realizou-se post mortem. Caso tenha sido na poca a tentativa de criar um heri, resultou desnecessria, pois herica foi a luta coletiva dos sessenta e oito defensores. Sete dcadas depois, a polmica persiste.

15h – Dominado o quartel da PM e controlada totalmente a capital, com todos os efetivos armados disponveis e contando com um nmero razovel de viaturas, a junta de governo deu seqncia ao seu segundo objetivo militar: a ocupao e instaurao de governos locais provisrios nas principais cidades do interior do estado. Foram organizados trs destacamentos, constitudos de militares e civis armados, que seguiram o roteiro das estradas que levam ao Litoral Sul e Agreste, ao Litoral Norte e Mato Grande e ao Trair e Serid.

18h – Aps entendimentos intermediados por Aurino Suassuna, genro do cnsul honorrio do Chile, Guilherme Lettire, o governador Rafael Fernandes, o secretrio geral Aldo Fernandes e o ajudante de ordens, capito Jos Bezerra de Andrade, transferem-se para a residncia do cnsul, situada em rua prxima. A famlia do governador, que at ento residia no Rio de Janeiro, havia partido no dia 21, de navio, tendo desembarcado em Salvador no dia 24, a convite do governador Juraci Magalhes, que a hospedou at o final do levante.

25 de novembro de 1935, segunda-feira
Na madrugada do dia 25, segunda-feira, partem para o interior as primeiras tropas de ocupao. O destacamento sul, comandado pelo tenente da PM, Oscar Mateus Rangel (o comandante da patrulha envolvida na morte de Otvio Lamartine) que havia sido libertado na vspera, da priso no quartel da PM, ocupou os municpios de So Jos de Mipibu, Arez, Goianinha, Canguaretama e Pedro Velho, substituindo os respectivos prefeitos e delegados. O destacamento norte, comandado pelo estudante Benilde Dantas, membro do PCB, repete os mesmos procedimentos nas cidades de Cear-Mirim e Baixa Verde. O destacamento centro, que se destinava ao eixo Trairi-Serid seguiu para as (atual Bom Jesus), sob o comando do sargento do exrcito Oscar Wanderley, assumiu o controle da cidade e em seguida de Serra Caiada. Nesse momento, enfrenta uma coluna formada por civis do Serid, que foi organizada sob a liderana de Dinarte Mariz e tinha a participao de alguns policiais militares, entre eles o capito Severino Elias. Os legalistas, inferiorizados, batem em retirada at a Serra do Doutor, onde aguardariam os rebeldes para aquela que seria a ltima batalha, no dia 26. De Serra Caiada o destacamento dirigiu-se no dia seguinte a Santa Cruz, onde recebeu o apoio de parte da populao, principalmente de partidrios locais da Aliana Social, determinou a substituio do prefeito e do delegado e providenciou o reabastecimento necessrio para prosseguir at o Serid. Nesse momento, os rebeldes controlavam dezessete dos quarenta e um municpios, correspondendo tera parte da rea geogrfica do Estado.

8h – Apesar do apelo da Junta na vspera, compreensivelmente o comrcio no abriu suas portas na segunda-feira. Foram expedidas requisies assinadas por Praxedes, para o fornecimento de vveres, que seriam distribudos populao. Seja porque no foram encontrados os proprietrios, seja por deciso arbitrria, foram arrombados e saqueados diversos estabelecimentos comerciais, entre eles o armazm da viva Machado, o maior e mais tradicional emprio de alimentos da cidade. Aproveitadores de ocasio associaram-se a revoltosos inescrupulosos e arrombaram e saquearam outros estabelecimentos que comercializavam produtos diversos, como tecidos (Loja Paulista), utilidades (Armazm Elias Lamas), cigarros (Souza Cruz) e jias (Joalheria Progresso). Apesar da falta de planejamento e de estrutura, a Junta conseguiu distribuir populao, na Vila Cincinato, grande quantidade de alimentos e de tecidos. Essa medida, at certo ponto ingnua (ou demaggica) repete outras que foram tomadas, como a promulgao de decreto que instituiu a reforma agrria e confiscou as terras de latifndio (sem no entanto, regulamentar) e a reduo de quarenta por cento no preos das agens de bondes.

Necessitando recursos para o custeio do levante, a Junta recorreu s reservas do Banco do Brasil, do Banco do Rio Grande do Norte e da Recebedoria de Rendas, que na segunda-feira continuaram fechadas e com seus es foragidos. As sedes foram arrombadas, assim como seus cofres, esses com a utilizao de maaricos. Do Banco do Brasil foi retirada quantia de dois mil e novecentos contos de ris, e da Recebedoria, cerca de duzentos contos de ris que somados as quantias menores requisitadas de algumas coletorias no interior, totalizam aproximadamente trs mil e duzentos contos de ris. Para uma referncia a este valor, uma agem de bonde custava cinqenta ris.

Ainda na manh da segunda-feira, uma patrulha foi enviada praia da Redinha, principal local de veraneio, onde muitas famlias haviam se refugiado na vspera. O objetivo principal era a eventual priso de autoridades (ou simplesmente adversrios) e a busca de armas. Ao chegar residncia de Arnaldo Lira, tendo o mesmo ironizado a busca e manifestado sua condio de integralista, foi preso e recolhido Vila Cincinato. Ao chegar, reage tentativa de um soldado de tomar-lhe o relgio e na briga atingido com um golpe de sabre no abdome. Removido, gravemente ferido, para o Hospital Miguel Couto, veio a falecer aps o final do levante. Seria a quarta e ltima vitima de morte violenta comprovadamente ocorrida durante o levante, em Natal.

26 de novembro de 1935, tera-feira
O dia comeou tranqilo em Natal: os revoltosos dominavam a cidade e os combates estavam ocorrendo no interior, com suas foras controlando um permetro cujos pontos mais remotos distavam mais de cem quilmetros: Canguaretama, Baixa Verde e Santa Cruz.

A Junta iniciou ento a batalha da comunicao. Determinou a impresso de milhares de folhetos que continham uma proclamao e informavam as principais medidas tomadas e de maneira ufanista, a marcha da insurreio pelo pas. Um avio da companhia area Condor foi requisitado e sobrevoou a cidade, lanando os panfletos. Nesse dia tambm, foi composta e impressa nas oficinas grficas de A Repblica, rgo oficial do Estado, a nica edio do jornal oficial da revoluo, A Liberdade. Dessa misso foi encarregado Raimundo Reginaldo da Rocha, mossoroense, do comit regional do PCB, que teve a colaborao de Horcio Valadares, jornalista e membro do secretariado nacional que se encontrava no Estado em misso partidria, acompanhando as lutas camponesas da Regio Oeste. To logo eclodiu o levante, ambos deslocaram-se para Natal e tiveram participao discreta, mas importante. Acompanhados de Francisco Meneleu, grfico do jornal cafesta, assumem o controle das oficinas, convocam seus grficos e determinam aos redatores do jornal, o poeta Othoniel Menezes e o provisionado Gasto Correia, a editorao das matrias, a maior parte previamente redigidas por Valadares. Com apenas quatro pginas e datado de 27 de novembro, os mil exemplares do jornal tiveram sua impresso concluda na noite do dia 26. No momento em que deveriam ser distribudos, na manh da quarta, foram todos apreendidos. No final da manh da tera-feira, 26, chega ao comando rebelde a primeira m notcia: o fracasso do levante do 29BC, do Recife, iniciado no domingo e subjugado na noite da segunda-feira, com a priso de seus principais lderes, o capito Otaclio Lima e o tenente Silo Meireles, prestistas e comunistas. Na tarde do dia 26, rearticulados em Santa Cruz e aps receber reforos de Natal, os revoltosos tomam a direo do Serid, tentando alcanar Currais Novos. A essa altura, a fora legalista, coordenada por comerciantes e fazendeiros liderados por Dinarte Mariz e acrescidos de integralistas de Acari e policiais paraibanos, reagrupa-se na Serra do Doutor, entre Santa Cruz e Currais Novos. Enquanto isso, chegam ao conhecimento do comando militar notcias de que aps a rendio do 29BC, tropas do 20BC de Macei e do 22BC de Joo Pessoa se dirigiam rapidamente para Natal (h boatos, no confirmados, de bombardeio areo). Aguam-se as divergncias entre os chefes civis e militares: os voluntaristas defendendo a resistncia, os realistas a favor da retirada. Os militares, com uma avaliao mais precisa, esto convencidos da derrota. Giocondo Dias sai do hospital e comea a articular uma sada. Em nome de um grupo de cabos e sargentos e com a aquiescncia de Quintino, tenta negociar com a Junta a transferncia dos presos civis e militares para a esquadrilha mexicana. Essa atitude teria dupla finalidade; retardar a articulao de uma possvel perseguio nas primeiras horas da retirada e preservar a integridade dos prisioneiros de forma a garantir a atenuao de penas em um futuro julgamento. revelia da Junta e sem seu conhecimento, o sargento Amaro Pereira vai corveta Capitnia em nome dos militares e recebe de seu comandante a garantia do asilo.

No meio da tarde as tropas rebeldes iniciam a marcha para Currais Novos, sem conhecimento da real magnitude da reao que iro enfrentar. Em uma das curvas da estrada, na subida da serra, defrontam-se com uma barreira de pedras fechando-lhes a agem. Inferiorizadas pela surpresa e pela posio do inimigo, bem entrincheirado, resistem algumas horas. Ao escurecer, batem em retirada desordenadamente, deixando em campo trs mortos e muitos feridos. s dezenove horas estava encerrado o ltimo combate.

Tarde da noite, em Natal, Quintino recebe um telegrama do comando da Stima Regio Militar no Recife, comunicando o controle da situao em todo o Nordeste e conclamando os rebeldes rendio. Ao mesmo tempo, comeam a chegar as primeiras notcias da derrota na serra. meia-noite, Giocondo, o sargento Amaro e o cabo Adalberto Cunha, com forte escolta e em trs caminhes, realizam a transferncia dos presos para os navios. uma hora da quarta-feira,dia 27, “Santa” vai ao 21BC para fazer uma avaliao e constata, surpreso, que o quartel encontra-se deserto. Quintino, rendido s circunstncias, determinara a retirada e a disperso dos remanescentes, liberando-os para a deciso pessoal: fugir ou se entregar s autoridades militares. Na Vila Cincinato, constatada a derrota, os membros civis da Junta e as lideranas do partido iniciam as providncias para a fuga. Destroem os documentos mais importantes e distribuem o dinheiro entre todos os participantes que l se encontravam. Despedem-se e cada um toma seu destino. Os primeiros a sair, s duas horas, foram Lauro Lago, Jos Macedo e Joo Batista Galvo que juntos, em um automvel dirigido por motorista, rumaram para Canguaretama. s quatro horas, em outro automvel, “Santa”, sua companheira e um auxiliar, saem em direo Paraba por estradas secundrias. Na mesma hora, Praxedes, a p, a partir da Ponte de Igap, dirige-se a Pajuara, entre a Redinha e Genipabu. s cinco horas, Quintino e o sargento Eliziel Diniz Henriques, que era de fato o segundo homem no comando militar, seguiram tambm de automvel para Baixa Verde.

Antes do nascer do sol, Natal estava abandonada pelos revolucionrios. Foram necessrias algumas horas para que se restabelecesse a autoridade legal. Chegava ao final a tentativa de implantar um governo popular ou a aventura de sobrepor-se s massas atravs do golpe militar.

Eplogo e revanche
Na manh do dia 27, quarta-feira, aos poucos a cidade se deu conta de que sua vida havia voltado normalidade. Atravs de funcionrios de escales inferiores que continuavam em circulao, de cidados de fora do governo, mas a ele ligados, dos anfitries do governador e do prefeito e dos militares mexicanos, o mundo oficial teve a certeza do abandono da capital pelas foras revoltosas. As foras policiais militar e civil ocuparam os pontos estratgicos, restabeleceram as comunicaes telefnicas e telegrficas iniciaram a priso dos que se renderam e a busca dos foragidos. Ao meio-dia, aps a chegada das tropas da Polcia Militar da Paraba e do 22BC, de Joo Pessoa, o governador Rafael Fernandes reassumiu formalmente o governo.

Enquanto o comando revoltoso em Natal desativava seu dispositivo, na mesma hora, no Rio de Janeiro, tinha incio o levante do 3 Regimento de Infantaria na Praia Vermelha, na Urca, sob comando do capito Agil do Barata Ribeiro, tenentista e membro do Partido Comunista. Iniciado na madrugada do dia 27, foi prontamente reprimido, tendo o quartel se rendido aps oferecer resistncia e ser bombardeado, s catorze horas. Os lderes da revolta de Natal somente vieram tomar conhecimento desse levante, na priso.

Iniciou-se ento uma fase de intensa represso, qual no faltaram os ingredientes da falsa denncia de adversrios inocentes e a tortura de presos. Aproveitando-se da ocasio, partidrios do governo e autoridades policiais incriminaram, prenderam e indiciaram centenas de adversrios, apenas pela condio de correligionrios ou amigos de Caf Filho e de Mrio Cmara. Os presos civis de maior participao no levante como Lauro Lago, Joo Batista Galvo, Jos Macdo, Epifnio Guilhermino e Sizenando Figueira foram barbaramente espancados. O prprio chefe da polcia reconhece em seu livro: “Houve, sim, interrogatrios speros, inflexveis, como era natural; de presses fsicas, tive notcias, verdade”.

Para que se tenha uma idia do “denuncismo” da poca, nos processos do Rio Grande do Norte foram indiciados 1.039 cidados (695 de Natal e 344 do interior), dos quais apenas 154 (15%) foram condenados. Dos indiciados, trs eram deputados da oposio, todos inocentados. Vinte e trs oficiais da PM foram indiciados, a grande maioria apenas por ter servido ao governo Mrio Cmara. Apenas cinco foram condenados (entre eles, Mrio Cabral de Lima, Moiss da Costa Pereira e Oscar Mateus Rangel, que tiveram atuao destacada). O tenente Augusto Leopoldo da Cmara Sobrinho foi indiciado (e absolvido) apenas por ser primo-irmo do ex-interventor. So exemplos de indiciados que no tiveram participao alguma os juizes Joo Maria Furtado e Fbio Mximo Pacheco Dantas (futuros desembargadores), o mdico Ezequiel Fonseca, futuro deputado estadual e o usineiro Lus Lopes Varela, todos correligionrios de Caf Filho, todos absolvidos.

Com as prises, a polcia iniciou as diligncias para a apreenso do dinheiro retirado do Banco do Brasil, da Recebedoria de Rendas e de Coletorias do interior do estado. De um total de trs mil e trezentos contos de ris, foram apreendidos com presos, com familiares dos revoltosos e em reparties pblicas, novecentos e vinte dois contos de ris, o que corresponde a cerca de trinta por cento do que foi confiscado. A controvrsia que cerca o destino da diferena de pelo menos dois mil contos de ris (uma fortuna na poca) permanece setenta anos depois. Sabe-se que parte razovel dessa quantia no foi apreendida, pois ficou com pessoas que nunca foram presas (ou porque se evadiram ou nunca foram considerados suspeitos). Outra parte ficou com familiares que escaparam da busca. A maior quantia provavelmente foi apropriada por agentes do poder pblico encarregados das diligncias. Na poca, pessoas que tiveram uma repentina elevao do padro de vida ou do patrimnio pessoal foram rotuladas como “achadores de dinheiro”.

O Tribunal de Segurana Nacional, rgo de exceo criado pelo Estado Novo, somente comeou a funcionar no final de 1937, sendo que a maioria dos principais envolvidos, que ainda se encontravam presos, foram julgados em 1938. Vejamos o destino das principais personagens da insurreio. Lauro Lago, Jos Macedo e Joo Batista Galvo am a quartafeira abrigados na residncia de um correligionrio em Canguaretama, noite penetram na Mata da Estrela, na expectativa de embarcar, com a ajuda de estivadores, nas barcaas que faziam o transporte de sal de Barra de Cunha. No dia seguinte, foram presos pelo delegado local, com a ajuda da polcia paraibana, provavelmente denunciados por correligionrios. Lago e Macedo aps alguns meses na Casa de Deteno foram transferidos com dezenas de presos do Nordeste para o presdio poltico da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, onde foram companheiros de Graciliano Ramos e personagens do livro Memrias do Crcere. Galvo, estando doente e usando o prestgio familiar, conseguiu permanecer preso em Natal. Aproveitando-se de uma liberdade provisria de trs dias, escondeu-se na fazenda de um primo na Paraba, onde permaneceu escondido alguns meses, da seguindo para o Amazonas onde ficou at a redemocratizao e anistia, em 1945.

Quintino Clementino de Barros e Eliziel Diniz Henriques, de Baixa Verde seguiram para Pedra Preta onde foram presos poucos dias depois. Giocondo Dias dirigiu-se para o municpio de Lages, onde permaneceu refugiado na fazenda de um amigo, Paulo Teixeira, durante cinco meses. Em abril de 1936, devido a uma desavena de carter pessoal, foi esfaqueado por seu anfitrio, sendo preso e novamente internado no Hospital Miguel Couto e depois transferido para o presdio militar no Rio.

Jos Praxedes de Andrade e Joo Lopes, o “Santa”, tiveram uma trajetria digna de fico. s quatro horas da madrugada, do dia 27, Praxedes caminhou solitariamente de Igap at a localidade de Pajuara, na poca uma rea de pequenos stios, alguns de propriedade de sua famlia e recebeu abrigo de um primo. Durante seis meses, at maio de 1936, viveu em um barraco de madeira no meio de uma mata. Nessa poca, veio a Natal um enviado do PCB que conseguiu localiz-lo e transmitir um endereo no Recife para contato. Com o dinheiro que tinha guardado, iniciou viagem a p, durante a noite, at poucos quilmetros aps Nova cruz, onde tomou um trem clandestinamente at Joo Pessoa e da de nibus para Recife e depois Salvador. Na Bahia, adquiriu nova identidade, com a qual viveu quarenta e nove anos incgnito, at 1984, quando foi descoberto pelo jornalista paulista Moacyr de Oliveira Filho. Em novembro de 1984 grava longa entrevista que Oliveira transformaria em livro. Sofrendo de grave enfermidade crnica, vem a falecer em 11 de dezembro de 1984.

“Santa” viajou de automvel por estradas secundrias at chegar ao territrio paraibano e a partir da, a p at Pernambuco, durante doze dias. Em Recife faz contato com o partido e chega ao Rio de Janeiro. Com a priso de Prestes e de Miranda em 1936, a polcia carioca apreende seu detalhado relatrio sobre a insurreio de Natal, que anexado ao inqurito. Da mesma forma que em Natal, onde apenas Praxedes conhecia sua identidade o que tornou impossvel uma delao, no inqurito do Rio no foi possvel identific-lo. Inexplicavelmente, mesmo depois da anistia e da legalizao do PCB, a identidade de “Santa” continuou desconhecida de historiadores e jornalistas at 1984. Sem identificao, uma das mais importantes figuras do levante sequer foi indiciada.

Epifnio Guilhermino com a soma das penas, que incluiu o assassinato de Otaclio Werneck, foi condenado a trinta e trs anos de priso, sendo a maior pena entre todos os envolvidos. Lago, Macedo, Galvo, Quintino e Eliziel foram condenados a dez anos; Giocondo e Praxedes, a oito anos; e Raimundo Reginaldo, a 3 anos. Todos, com exceo de Galvo e Praxedes cumpriram suas penas e foram libertados com a anistia poltica em 1945.

Concluses
A insurreio militar e comunista de 1935, em Natal, ocorreu dentro de um contexto nacional no qual se destacavam a insatisfao popular com os rumos do governo Vargas, a crise econmica, a desiluso com as prometidas reformas polticas e a preocupao dos setores progressistas com o crescimento do integralismo. O Partido Comunista do Brasil vivia uma fase ufanista, na qual superestimava a mobilizao popular da Aliana Nacional Libertadora, como se fosse exclusiva do partido. Prestes, isolado na clandestinidade, h oito anos afastado do pas, acreditava nos relatrios fantasiosos de Miranda, o despreparado secretrio-geral do PCB e julgava que o extraordinrio prestgio que detinha no meio militar e no povo brasileiro se traduziria em apoio incondicional revoluo socialista. Os “tenentes” elementos progressistas do exrcito, descontentes com os caminhos tomados pela revoluo de 1930 e com o fechamento da ANL, sem perspectiva de ao poltica e sabendo no haver condies objetivas para uma revoluo de cunho popular, am a articular um golpe, dentro da tradio militar desde a proclamao da Repblica. Encontrando ambiente propcio, apesar das resistncias iniciais, levam seu guia e chefe militar, o PCB e a Internacional Comunista, a embarcar na aventura.

Em Natal, as condies locais contriburam para amplificar a motivao. Os militares de baixa patente, muitos j excludos, outros ameaados, com uma atuante clula comunista no quartel, h muito se encontravam aliciados por tenentes de outras guarnies. A demisso coletiva foi o estopim que detonou o levante antes da hora. Curiosamente, foi tambm a razo do sucesso inicial. A surpresa, somada incompetncia do aparelho de segurana, contribuiu para que os militares tivessem razovel apoio popular. O radicalismo das lutas partidrias recentes, as demisses e perseguies do novo governo criaram o ambiente propcio para a adeso dos que se encontravam “de baixo”. Finalmente os comunistas, apesar da oposio inicial e ignorando todas as avaliaes anteriores, no resistem ao glamour de protagonizar a “sua” aventura.

Ivis Bezerra
Mdico, professor do Departamento de Medicina da UFRN; membro da Academia de Medicina do Rio Grande do Norte

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