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Sociedade
civil e espao pblico j4q2j
Franois
Houtart 2d2r6c
O
conceito de sociedade civil muito utilizado hoje. Ele to
amplo que permite todas as interpretaes, mas tambem todas as
ambivalncias. Quando o Banco Mundial fala de sociedade civil,
trata-se de algo diferente da realidade a qual se referem o Fro
da Tailndia ou o Movimento dos Sem Terra no Brasil. E pois
necessario fazer uma analise,
alm dos slogans, pois, com efeito, a sociedade civil o
lugar das lutas sociais e o lugar onde se definem as propostas
coletivas. Examinemos o assunto mais detalhamente.
1.
O que a sociedade civil?
Na
histria, o conceito evoluiu muito. Durante o Renascimento, o
conceito se opunha ao de sociedade natural, significando uma ordem
social organisada superior porque civilisada e racional. No
conceito de sociedade civil, o filsofo ingls Locke incluia o
Estado e, para Adam Smith, tratava-se de todo que era socialmente
construdo, comprehendendo o mercado e o Estado. Para Hegel, era
o espacio social situado entre a famlia e o Estado. Marx, em
contraponto, o definiu como o conjunto das relaes sociais, as
relaes econmicas condicionando as outras. Para Antonio
Gramsci, existem duas realdades recobrindo as relaes econmicas,
a sociedade poltica e a sociedade civil, esta ultima sendo
constituida pelas institues, envolvendo individuos e
destinadas a produzir um consenso : a escola, as mdias, as
institues religiosas, etc. Poder-se-ia dizer que nesta ultima
concepo, a sociedade civil se situa entre o Prncipe e o
Comerciante, entre o Estado e o Mercado.
Essa
breve aluso evoluo histrica tinha por unico objetivo
mostrar as variaes de sentido, conforme as concepes que
havia da sociedade. Nenhum conceito inocente, sobretudo qoando
ele serve para definir o funcionamento das coletividades humanas.
E o que se constata ainda hoje. Com efeito, quando se leva em conta as tomadas de puntos de vista
contemporneos, descobre-se trs
grande orientaes, uma concepo burgus da sociedade
civil, aquela da elite, uma concepo que eu chamaria anjlica,
uma concepo que define a sociedade civil como o reagrupamente
de todos os bons e, enfim, uma concepo popular, a concepo
do povo.
1)
A concepo burgus da Sociedade Civil
O
burgus valorisa a Sociedade Civil como elemento essencial da sua
estratgia de classe. Para ela, a sociedade civil o lugar do
desenvolvimento das potencialidades do individuo e do espao do
exercicio das liberdades. Ora, entre estas, a principal a
liberdade de empresa, considerada como a fonte de todas as outras liberdades. , portanto, a
empresa que o piv da sociedade civil. Articulam-se a esta
ultima as grandes institues de carter ideolgico, cumprindo
um papel de reproduo social : a escola, as religies, a mdia,
assim como o conjunto do setor no-mercantil (servicios pblicos
privatisados) e sobretudo organisaes voluntarias destinadas a
supriras carencias do sistema. Em tal perspectiva, o papel do
Estado limitado em estabelecer o conjunto de regras jurdicas
garantindo a propriedade privada e o livro exercicio de empresa,
em assegurar o funcionamento da reproduo social (ensino, sade,
...) e em proteger os individuos. Encontra-se a reflexo de
Michel Camdessus quando ele falava das trs mos : a mo
invisivel do mercado, a do Estado destinada a organisar a regra do
jogo e a da caridade, ocupando-se dos que am pelas malhas da
rede.
45f1o
A
implacavel lgica desse pensamento alia-se da econmia
capitalista de mercado, com efeito, para esta ultima, o mercado
um fato da natureza e no uma relao socialmente construida.
Portanto, precisa-se garantir seu funcionamento nas mais grande
liberdade possivel, sem obstculo, sobretudo a parte do Estado e
em funo de uma etica interna estrita, o que permitira ao
mercado de exercer sua funo de regulador universal das
atividades inter-humanas. Mas o mercado no dissocivel da
produo, pois so os bens e o servicos que se trocam. Ora, no
caso da econmia capitalista, as relaes sociais de produo
estabelecem uma relao de classe, submetida inexoravelmente
lei da competitividade. Na concepo burgusa, reforar a
sociedade civil significa favorecer a liberdade de impresa,
dinamisar os atores sociais empreendedores, reduzir o lugar do
Estado e, finalmente, reproduzir a relao social que assegura
uma dominao de classe, hoje mundialisada. E como a relao
social, tanto a da reproduo quanto a da troca (o mercado),
naturalisada, no h alternativas.
Assim,
resulta-se uma estratgia muito coherente em relao
sociedade civil. Trata-se de valorisar a rede de institues que
fazem a trama : os aparelhos ideolgicos, as organisaes
voluntarias, dando-lhes um estatuto privado. Isto permite
canalisar institucionalmente a demanda social dos grupos e das
classas fragilisadas e de fragment-las.
E
relativamente facil cooptar certas organisaes voluntarias,
religiosas ou licas, notadamente nas aes de atenuar da
pobreza..
Os
efeitos da aplicao dessa concepo da sociedade civil so
ntaveis. Como mercado torna-se a norma universal do funcionamento
das relaes humanas, este ultimo configura no somente o
panorama do consumo, mas tambem o campo da cultura. O resultado
uma srie de deslocamentos: do poltico ao mercado, do
desenvolvimento ao crescimento, do cidado ao individuo
consumidor, do engajamento poltico ao referentes institucionais
culturais (etnia, gnero, religio...). A sociedade civil se
despolitiza pois, perante o mercado, a poltica torna-se cada vez
mais virtual. Os movimentos sociais procuram sua identidade
exclusivamente no seu proprio campo, em ruptura com a tradio
poltica. Certas ONGs desenvolvem um ideologia agressivamente
anti-Estado. Os movimentos religiosos se multiplicam centrados
sobre a salvao individual e desprovidas de projeo social.
Precisa-se
estar bem consciente do qie significa a sociedade civil para a
concepo burgusa. A similitude do vocabulario no deve
produzir illuso. Quando o Banco Mundial, o Fro Econmico
Mundial de Davos ou certos governos falam de sociedade civil, isso
nada tem a ver com o que os movimentos sociais presentes a
Seattle, a Praga ou a Porto Alegre pretendem dizer. Mas,
antes de ar concepo popular da sociedade civil, desejaramos
initalmente abordar uma outra menira de ver as coisas e que
sempre partilhada por numerosos grupos sociais.
2)
A concepo "anjlica" da sociedade civil
Nessa
perspectiva, a sociedade civil composta das organisaes
geradas pelos grupos sociais geralmente fragilisados na sociedade
atual, pelas ONGs, pelo setor no-mercantil da conmia e pelas
instituies de interesse comum, educativas e de sade. uma
sorte de terceiro setor, ao lado do Estado, autnomo, susetvel
de fazer oposio. Em uma palavra, trata-se da organisao de
cidados, de todos quem querem o bem e desejam o curso das coisas
nu mundo de injustia.
Certamente,
as propostas dos membros da sociedade civil, nesse quadro de
pensamento, respondem verdadeiras necessidades, mas essa concepo
no desemboca sobre uma outra ordem das relaes sociais.
como se a sociedade fosse composta de uma coleo de individuos
regrupados em estratos superpostos e quem reivindiquam um lugar
digno no seio dessa sociedade, sem que por isso se reconhea
explicitamente a existencia de relaes sociais criadas pela
organisao capitalista da econmia e cuja reproduo
indispensavel a sua manuteno.
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Um
tal conceito de sociedade civil permite de conduzir os combates
sociais. Com efeitos, ela denuncia abusos do sistema, mais no
chega a uma crtica de sua lgica. Por essa mesma razo, ela se
torna-se facilmente o receptculo de ideologias anti-estado,
entre-classas, culturalistas, utpicas no sentido negativo
da palavra, manifestando o desejo de mudar os paradigmas da
sociedade, ela engendra a longo prazo a ineficacia.
Em
certos aspectos, ela encontra sem saber, a concepo burguesa da
sociedade civil, e por isso que as instituies que partilham
essa viso da sociedade civil se transformam em objeitos de
cooptao das empresas transnacionais, pelo Banco Mundial ou
pelo Fundo Monetario Internacional.
3)
A concepo analtica ou popular da sociedade civil
A
palavra "analtica" significa que uma lectura da
sociedade civil en termos de relaes sociais, que por se mesma
um ato poltico. Com efeito, isso significa que ela um
lugar onde se produzem as desiguadades sociais e que existe em seu
seio institues e organisaes que representam interesses de
classe muito divergentes. No basta mudar os coraes para
mudar automaticamente a sociedade, mesmo se um tal procedimento
muito importante.
Sem duvida, as relaes sociais do capitalismo no so
mais as mesmas em suas formas em comparao com as do seculo 19
na Europa. Isto tem efeitos importantes sobre a sociedade civil:
as relaes diretas capital-trabalho so desregradas pela
orientao neo-liberal da econmia. O conjunto das populaes
indireitamente integrado no capitalismo atravs de mecanismos
macro-econmicos de politicas moentarias, da divida, do preo
das matrias primas... As novas tecnologias, a concentrao das
empresas, a mundialisao do mercado, a volatibilidade do
capital financeiro e outros fatores do sistemo econmico no
cumprometeram a lgica do capitalismo, mas contribuiram a
difundir seus efeitos no espao e os repartir diferentemente no
tempo. Com efeito, h cada vez menos fronteiras e proteos
sociais quem resistem a poderes de deciso, que escapem aos
Estados. O tempo no conta mais para transaes financeiras,
enquanto suas consequencias se desenvolvem em longos periodos.
O
resultado que a relao social do capitalismo tornou-se menos
visivel, isto , mais difusa. Esse fenmeno afeta as modalidades
das lutas sociais. Existem hoje populaes pobres sem luta de
classas correspondante, trabalhadores que se definem como
consumidores, grupos sociais fraligisados pelo sistemo econmico
e que reagem em funo de sua casta (os Dalis na India),
de sua etnia, de seu genero, sem fazer a ligao com as lgicas
econmicas que so na fonte de sua precariedade. As lutas
particulares se multiplicam, mas a maior parte do tempo elas
permanecem fragmentadas geograficamente ou setorialmente, face a
um adversario cada vez mais concentrado.
Portanto,
a sociedade civil forgada pelo mercado nas relaes
desiguais. O espao publico monopolisado pelas foras econmicas.
Os grupos dominantes agem mundialmente, utilisando os Estados no
com vistas a redistribuio da riqueza e a proteo dos mais
fracos, mais cada vez mais para controlar as populaes (migraes,
movimentos sociais, sociedade civil popular) e servir o mercado.
Os mecanismos so diversos e sempre progressivos, indos das polticas
monetarias os tratados de livre mercado, das reformas jurdicas
quelas do ensino, da privatizao da segurana social aos
servios da sade, da diminuio de subsidios pesquisa
social e aos apoios s organisaes populares, da supresso da
publicidade imprensa de esquerda e ao controle, de um
emfraquecimento dos setores progressistas, das instituies
religiosas, ao tutelamento das ONGs. Em suma, constata-se que o
mercado manda e desmanda no Estado e nos orgos da ONUe controla
a sociedade civil, cuja dinamismo e pluralidade so itidos e
mesmo encorajados, na condio de no se colocar em questo de
maneira eficaz a relao social capitalista.
Mas,
sobre a base duma tal analise se desenvolve tambem uma consciena
social mais aprofundada. Com efeito, existe uma sociedade civil
popular que a dos grupos sociais desfavorizados ou oprimidos,
que pouco a pouco experimentam e descobram as causas de sua situao.
Ela se encontra na base da resistancia que se encontra e que pouco
pouco se mundialisa. Ele reinvindica um espao publico
organisado ao servio do conjunto dos seres humanos e no duma
minoria. Ela quer transformar em cidados aqueles que foram
reduzidos a produtores e a consumidores, aqueles que se debatem
nas dificuldades das economias informais. Aqueles que formam essa
"multido inutil" para o mercado globalisado.
2.
Qual sociedade civil, qual espacio pblico, quais alternativas ?
A
importancia dos acontecimentos que nos vivemos no devem nos
fazer esquecer a historia. Os movimentos sociais no datem de
ontem. As resistencias ao capitalismo, ao colonialismo, s
guerras de conquista dos mercados, abundam na histria dos povos.
O movimento oprario se imps como paradigma das lutas durante,
mais ou menos, dois sculos. As revoltas dos trabalhadores rurais
abalaram sociedades, notadamente no mmomento em que se introduzia
o capitalismo agrario. Inumeraveis povos autctones, que
denominam-se hoje as primeiras naes,
se oposeram a sua destruio cultural ou fsica sob os
golpes da expanso mercantil ou da conquista do seu teritorio. Os
movimentos feministas tm reagidos desde o seculo 19 ao carter
especfico da explorao das mulheres no trabalho e excluso
da cidadiania. Ento qual a novidade?
Um
primeiro elemento novo a appario no panorama das
resistancias dos movimentos ecolgicos. A destruio do meio
ambiante produzida por uma relao mercantil com a natureza, de
maneira alguma limitada por um socialismo que rapidamente definuiu
seus objetivos em funo do desenvolvimento das foras
produtivas para retomar o capitalismo, e agravado
consideravelmente nos 30 ultimos anos no curso da fase neo-liberal
da accumulao capitalista, provocou numerosas reaes. Cada
vez mais pessoas fazem a ligao entre a lgica econmica e os
problemas ecolgicos, mesmo se no o caso de todos.
No
curso da guerra fria, numerosos movimentos pacifistas foram
conhecidos. Eles se ligavam tradies anti-blicas que j
haviam nascido no fim do seculo 19. Eles conhecem hoje uma certa
stagnao, porque os conflitos se localisaram fora dos grandes
centros da mundialisao, mas acontecimentos como a guerra do
Golfo ou a de Kosovo reavivaram as memorias e lembraram que o
imperialismo econnomico no pode dispensar a fora militar,
seja o OTAN ou o plano Colombia.
A
multiplicao das ONGs, sempre um vocbulo novo para uma
realdade preexistente e que recobrem uma nebulosa de organisaes
cuja fonte se situa na sociedade civil, tambem uma caracterstica.
Sua realdade hbrida e ambivalente, desde aquelas que so
organisadas pelo sistemo dominante at aquelas que docilmente se
fazem instrumentalisar e am por aquelas que se identificam s
lutas sociais e exprimem solidariedade norte-sul.
Antigos
movimentos sociais de ordem sindical ou poltica, novos
movimentos definidos por objetos ultraando as relaes de
classas (mulheres, povos indigenas, a paz, a defesa do meio
ambiente, a identidadde cultural, etc.) sendo inevitavelmente
ancorados nesses ultimos ONGs, tudo isto constitui uma variedade
de initiativas na qual , as vzes, dificil distinguir.
Entretanto, para que a sociedade civil popular possa agir
efficazmente, tanto ao nivel de cada nao quanto sobre o plano
mundial preciso critrios de avaliao.
O
pensamento pos-moderno se encontra muito vontade face a essa
situao, interpretando-a como o fim do que eles chamam "as
grandes narrativas", assimilando o estudo da sociedade
lingustica, isto , o fim dos sistemas e das grandes
estruturas, das explicaes de conjunto. Todu isso substiuido
pela histria imediata, a interveno do individuo em seu meio
ambiente direito, a explicao das "pequenas narrativas
", das initiativas particulares. Em reao a uma
modernidade prometeca, a uma discurso totalisante, cai-se em uma
leitura atomisando a realdade a qual, de alguma maneira
fragmentada, inexplicavel em sua gnese, insignificante em relao
um conjunto histrico ou presente, em suma, uma sociedade
civil que uma adio de movimentos e de organisaes, cuja
simples multiplicidade bastaria em constatar uma ordem totalitaria
da natureza poltica ou econmica. Qual sorte para o capitalismo
mundialisado que conseguiu em construir as bases materiais de sua
globalisao como sistema graas tecnologias da comunicao
e da informtica, de ver se desenvolver uma ideologia anunciando
o fim dos sistemas. Nada poderia lhe ser mais funcional. Mesmo que
seja fundamental a crtica da moernidade, a veiculada pelo
capitalismo, o esforo do pos-modernismo no pode nos ajudar a
anlisar a sociedade civil contemporeana, nem contribuir a
dinamisar la como fonte de resistencia e lutas eficazes. A
fragmentao desses ultimos provem das consequencias e das
estratgias do sistema capitalista.
O
criterio de anlise dos multiplos componentes da sociedade civil
popular s podera ser o seu carter anti-sistemtico, isto ,
na medida em que cada uma delas, isto , os movimentos sociais ou
as organisaes no-governementais contribuam recolocar em
questo, no dominio que lhes proprio, a lgica do sistema
capitalista. Isto supe uma capacidade de anlise permitindo
substituir seu pensamanto e sua ao especfica em um quadro
geral, de ver em que os trabalhadores rurais sem terra mais que
nunca rejeitados quando o solo torna-se capital, os povos
autoctonos, primeiras victimas dos programmas de ajustamento
struturais, as mulheres caregando o peso duma pobreza agravando as
relaes patricarcais, as classas medias fragilisadas pelas
politicas monetarias e as transaes financeiras e
especulativas, uma organisao aruinada pelo mercantilismo do
setor, das crianas expulsas das escolas pela concepo
elitista do ensino, uma poltica social tornada impossivel pelo
peso da divida externa, culturas esmagadas pela americanisao
sistemtica, meios communicao domesticados pelos interesses
econmicos, pesquisadores limitados pelas exigencias da
rentabilidade, a arte reduzida a seu valor de troca, uma
agricultura dominanda pelas multinacionais do quemica ou da
agro-business, um meio ambiente degradado por um desenvolvimento
definido exclusivament en termos de crescimento, provindo todos
duma extrao da riqueza ligada lgica do mercado
capitalisto.
Isso
exige da parte dos movimentos e organisaes da sociedade civil
popular uma destruio da deligitimidade do sistemo econmico
dominante. Com efeito, no se trata s de condamnar seus abusos,
o que fazem as instancias ticas como as igrejas crists e os
representantes das grandes religies, mas tambem certas
mantenedores do sistema que sabem que essas prticas lhes prejudicam e colocam em perigo o
sistema capitalisto. preciso denunciar a lgica que preside a
sua construo e as suas prticas e que desemboca
necesseriamente sobre contradies sociais e sobre a
impossibilidade de responder as funes essentiais da econmia,
isto , a segurar as bases matriais necessrias vida fsica
e a cultura de toda humanidade.
Enfim
trata-se de estar a procura de alternativas. De modo algum
paliativos que podem a corte prazo atenuar a situao de miseria,
nem de medidas irealistas que do a iluso de sair de um sistema
que, tais as cips das florestas tropicais, volta de novo depois
uma ou duas estaes. Nada de alternativas no interior do
sistema tal a terceira via to apreciada dos meios reformistas
que persistent na iluso de humanisar o capitalismo. Mas em funo
da conquista de uma organisao pos-capitalista da economia,
projeto a longo prazo certamente mas indispensavel de definir, e
que ao mesmo tempo comprehende uma dimenso utpica (o tipo de
sociedade que se quer construir), projetos a medio prazo e
objetivos a corto prazo, cuja elaborao a tarefa da
sociedade civil popular.
3.
Qual sociedade civil, quais espacios pblicos face mundialisao?
Coloca-se
ento a questo : qual sociedade civil desejamos promover, quais
espacios publicos reinvidicamos face mundialisao da relao
social capitalista ?
As
balisas so claras, mesmo si ao no facil, mesmo si o
adversario potente.
Nos
poderemos estabelecer cinco grandes orientaes.
A
primeira a promoo da sociedade civil popular, a que se
define como anti-sistemtica, regrupando o conjunto dos que em
todos dominios da vida coletiva contribuem a construir uma outra
econmia, uma outra poltica, uma outra cultura, com altos e
baixos, successos e fracassos, acertos e erros. Esta sociedade
civil tem necessidade de ser os intelletuais para constantemente
redefinir com os movimentos sociais as estratgiais, as propostas
e os objetivos. Ela deve formular sua propria agenda, para no
estar merc dos que decidem ao nivel mundial. ela devera
produzir seus enunciados e sua cultura, como muitos movimentos o
fizeram no ado. O outro Davos um exemplo.
O
segundo da sociedade civil popular que ela portadora de
utopias, as que mobilisam, que reavivam a esperana, que se
constroem no concreto das lutas sociais, que nunca so esgotadas
pelas suas tradues concretas e que permanecem como um farol na
existencia das coletividades como indivduos. Utopias
preconisadas pelas grandes tradies humanistas licas e
religiosas. A proposito destas ultimas. No negligemos, como
sempre ocurreu no ado, as enormas reservas de utopias que
veiculam os grande movimentos religiosos quando eles no so
vendedores de iluses, quando no se esgotam nas lgicas
institucionaise identificando a f nos aparelhos eclesiasticos ou
religiosos, mas quando eles inspiram e motivam engajamentos
sociais, quando eles valorisam o carter libertador das suas
teologias, quando eles lembram a tica dos comportamentos
individuais to importantes para a construo duma nova
sociedade.
Em
terceiro lugar, a sociedade civil popular deve se caracterisar
pela procura de alternativas em todos os niveis, as das grandes
conquistas polticas e da vida quotidiana, as das organisaes
internacionais e das naes unidas e da vida quotidiana dos
empobrecidos, da vida material e da cultura, do respeito da
natureza e da organisao da produo, do desenvolvimento e do
consumo. uma proposta consideravel, que exige um longe
trabalho, mas cujas premissas j foram colocadas.
O
quarto aspecto a conquista dos espaos publicosn a articulao
com a poltica. Xem esta ultima a ao permanece exterio ou no
minimo limitada. Trata-se, com efeito, de construir uma relao
de fora qui terminem em decises. a deciso para o
estabelecimento duma verdadeira democracia que, incluindo a dimenso
eleitoral no se limite a esta e envolva o conjunto do espao
publico, comprehendidos seus aspectos econmicos. Isto supe uma
cultura poltica e uma aprendizagem que os movimentos sociais nem
sempre empreenderam face uma desvalorizao do poltico.
provavel que no futuro, seja por uma pluralidade de organisaes
politicas agindo em harmonia que a nova relao de fora se
constroa.
Enfim,
quinta perspectiva, as convergencias. Mundialisar as resistencias
e as lutas um objeitivo imediato. No de maneira abstrata e
artificial, mais muito concretamente. A multiplicidade dos
movimentos, sua variedade, podem ser um obstaculo, na medida em
que eles so fragmentados, atomisados, mas, deixando de ser
simplesmente justapostas ou aditionadas,
tais movimentos entram numa convergencia funcional, como
foi o caso em Seattle, em Washington, em Bankok, em Pragua, em
Nice, em Davos. O ano foi o das convergencias. Precisara
entretanto de dotar-los dos meios de operar tanto sobre o plano
analtico, afim de apreender as propostas, os objetivos e os mtodos,
quanto sobre o da communicao, entre outros pela constitu
progressiva de um inventario dos movimentos e de suas redes. o
que o Fro Mundial das alternativas deseja realisar.
Concluindo,
nos podemos dizer que a afirmao da sociedade civil a, de
inicio, por sua definio, a popular. Ela s podera ser
mundialisada na medida em que ela existe localmente, pois as
convergencias supem a existencia de iniciativas. As modalidades
concretas de sua ao so numerosas sobre o plano local e
internacionalmente. Elas s podero ser definidas pelos atores
dos diversos campos, os da
organisao das relaes sociais, os das comunicaes, os da
cultura, os do meio ambiente. O Fro Social Mundial um lugar
privilegiado para faze-lo, no seio de seus numerosos grupos de
trabalho. Nos tentamos refletir sobre os fundamentos, as propostas
e os objetivos, resta a determinar os meios. A partilha com os
movimentos os mais experimentados em cada dominio permitira de
consegui-lo. Conquistar espaos pblicos, como nos o fazemos em
Porto alegre j construir a sociedade civil popular em escala
mundial.
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